Rato de Show • 24 de maio de 2025

Cobertura: Bangers Open Air - Dia 3 (Domingo)

Não é um adeus, apenas um até logo

Uma colaboração com: oSubsolo - @osubsolo

Texto originalmente publicado aqui.

Fotos: Sidney Oss Emer


O domingo amanhecia tão quente quanto o dia anterior, servindo como aviso de que seria um dia para ingerir muito líquido e andar junto ao protetor solar. A movimentação em torno do Memorial da América Latina era menor do que no dia anterior, talvez como consequência da necessidade de recuperação para alguns, antes que pudessem voltar ao front. Fato é que ainda estaria por vir mais um dia cheio de performances e muito agito.

Bangers Open Air

O clima, de um modo geral, parecia um misto daquele fim de domingo quando o Fantástico começa a tocar, entre aqueles que já começavam a sentir que a festa entrava em sua reta final e aqueles que até poderiam ter isso em mente, mas se preocupavam muito em aproveitar cada segundo de um dia que estava prestes a começar. Neste quesito, muitos burburinhos ao longo do dia, também com a feliz notícia da oficialização da edição do ano seguinte do Bangers Open Air para 2026. Um sinal de confiança e sucesso pela grande quantidade de elogios ouvidos ao longo do dia.


Mas antes de nos atermos ao futuro, ainda há muito a ser narrado entre as apresentações que se deram nos quatro palcos e, como já de praxe, caso esteja caindo de paraquedas apenas nesta publicação, você pode conferir como foi nossa percepção e experiência do Bangers Open Air clicando aqui, para saber sobre o Warm Up (sexta-feira) e aqui, para conferir o sábado. Aproveitamos também para agradecer publicamente à pessoa de Carolina Angeli por ter sido parte fundamental deste processo que materializou nossa presença no festival.

ICE STAGE: Beyond the Black | Symphonic Metal | Alemanha


Abrindo os trabalhos do dia, tivemos os estreantes de solo brasileiro do Beyond the Black, uma banda relativamente “nova”, com pouco mais de 10 anos de estrada, já de início trazendo algumas similaridades com a banda que abriu os trabalhos no dia anterior: extremamente bem recepcionados por um público que os ovacionava, gritando seus nomes, público este longe de ser pequeno e uma grande expressão de surpresa por parte da banda frente a tão calorosa recepção.


Em especial, a vocalista e líder da banda, Jennifer Haben, que subiu ao palco um tanto quanto nervosa, porém à medida em que o show transcorria, ficava nítido o crescente conforto, o sorriso no rosto e os comandos de “hey, hey, hey’s” que colocaram todos os sentimentos, do palco ao público, no ar.



O grupo não poupou hits, fazendo uma apresentação bem aproveitada com o tempo disponível, com o melhor que seu acervo traz, de títulos como Reincarnation, Heart of the Hurricane, Lost in Forever e In the Shadows. Vale o destaque também para o duo e as contraposições de Haben com Chris Hermsdörfer (guitarrista), que, como bom sinfônico que é, é responsável por entregar a leva de guturais e agressividade que balanceia a delicadeza da vocalista, que converteu alguns bons fãs devido ao carisma e à entrega musical do dia.

Beyond the Black

SUN STAGE: Black Pantera | Hardcore/Thrash Metal | Uberaba/MG


Inaugurando o dia pelo palco Sun, indiscutivelmente um dos maiores expoentes nacionais da atualidade, o Black Pantera já iniciava seu show com a provocativa intro de torcer o nariz dos mais conservadores: no mais alto espírito do samba de quintal, a brasilidade rolava solta conforme um grande público, das mais variadas idades, gêneros e subgêneros do metal (vide as camisas), se concentrava. Somado à fala inicial de Charles Gama (guitarra e vocais) “Bem-vindos ao almoço com Black Pantera”, antes de iniciar os trabalhos com Candeia.


Desde o primeiro minuto, o show fez jus ao que se reconhece como uma performance do Black Pantera: alta intensidade, moshes frenéticos, respeitosos e constantes, pulos, momentos de descontração e, é claro, um som absurdo comandado pelos riffs de puro feeling de Charles Gama e a frenética técnica slap de Chaene Gama no baixo, que é simplesmente uma arte à parte. Somado às muquetadas de Rodrigo Pancho na bateria, o power trio fez uma apresentação completa, com direito ao seu último single lançado, Seleção Natural, onde todos presentes já se colocavam a cantar.


Com a fala provocativa e brincalhona de “Viva o tricolor”, feita por Chaene em homenagem ao São Paulo, a performance se desenrolou perfeitamente, até a já aguardada (e foda) mosh das minas em Sem Anistia, modificada para “Só as Mina”, onde se via um mosh grande e sorridente, passando aquela sensação de liberdade e diversão sem preocupação (algo que já ocorria antes mesmo desse mosh exclusivo). E, se é inclusão uma das palavras-chave do show, todos se sentiram extremamente incluídos aos comandos da banda para o início de Revolução é o Caos, onde alinhados e divididos, dois grandes blocos de corpos se prepararam antes de se chocar, em uma insana wall of death realizada por ali.


O rosto e a felicidade dos músicos estavam escancarados, como quem diz que o almoço de domingo havia sido concluído com sucesso, onde, nas palavras de Rodrigo Pancho, a quem encontrei posteriormente ao show, disse brevemente sobre a simbologia e importância deste show, como um marco para a carreira, pelo reconhecimento e a energia do público que optava por estar reunido ali, prestigiando e curtindo, ao contrário de diversos outros espaços onde poderiam estar.

Black Pantera

HOT STAGE: Lord of The Lost | Industrial Metal | Alemanha


Inaugurando o último dia de palco Hot, chegava uma banda que não é estranha às estruturas do Memorial e ao público. Recebendo uma “promoção” este ano, o Lord of The Lost, banda que teve sua primeira participação no Summer Breeze Brasil, na época no palco Sun, e que já lá havia dado um show de performance e carisma, cativando muitos, de modo que, ao seu retorno, já receberam um espaço maior de destaque.


A banda é um apanhado de referências e elementos que, em um primeiro momento, até pareceriam não ornar tão bem, mas, por alguma razão, funciona: misturando elementos oitentistas, com uma estética gótica e andrógina, a banda performa músicas intensas, com riffs rápidos e vocais intercalados entre o limpo e grave de Chris Harms, aos seus mais explosivos e intensos guturais, mostrando a grande versatilidade do arranjo da banda, que passou por diversas fases de seu acervo, incluindo seu último álbum de inéditas de 2023, Blood and Glitter.


Ainda que tendo uma grande fileira de fãs, somados aqueles que cresciam em curiosidade ao vê-los pela primeira vez, o sexteto teve de lidar com um inimigo já conhecido da primeira edição: o calor. Ora jogando água no cocuruto ou até se cobrindo com toalhas, como foi o caso de Class Grenayde (baixo), o sol paulista não foi o suficiente para derrubar o ânimo e o carisma dos músicos, que pareciam se divertir, tanto entre si quanto com o público. Como foi o caso de Pi Stoffers (guitarrista), que simplesmente não parava um minuto, fosse mandando corações, sorrisos, gritando, ou simplesmente tentando tirar toda a energia do público, do mesmo jeito que quando você faz questão de tirar todo o suco de uma laranja.


Com destaque também para a função dupla de Benji Mundigler, entre a guitarra e teclados, e Gared Dirge nos teclados e percussão, o posicionamento espelhado de ambos gerava uma contraposição interessante, principalmente quando ambos assumiam os teclados, ou quando Gared simplesmente batia com as baquetas nos bumbos, em sincronia perfeita com Niklas Kahl.



Uma banda que ainda carece da oportunidade de um show solo pelo Brasil, o Lord of the Lost ao menos parece receber o destaque merecido nos palcos do Bangers, onde a banda já se vê como uma segunda casa, simplesmente amando o ritmo do festival urbano. E, se depender do entrosamento, resposta e impacto no público, com certeza se fará uma banda a retornar nos próximos anos ao Brasil.

Lord of the Lost

ICE STAGE: Paradise Lost | Doom/Death Metal, Gothic Metal | Reino Unido


Uma das bandas mais aguardadas do festival, e que certamente pegou muitos de surpresa com seu anúncio, foram os pioneiros do Paradise Lost. Do doom ao death, para o gótico e o rock, esta quase quinquenária banda soube como inovar e empurrar as barreiras mais do que qualquer outra, servindo sempre como referência para muitas das bandas da atualidade.


Trazendo um setlist recheado de suas músicas mais atemporais, de Say Just Words, One Second, a Enchantment e até mais recentes como Ghosts e Darker Thoughts, as estrelas estavam alinhadas para este ser um momento fortuito para fãs e não fãs. Mas, infelizmente, o que se perdeu não foi o paraíso, mas o bom equilíbrio na equalização do som, que, estando extremamente alto, fez com que a voz de Nick Holmes se mantivesse praticamente inaudível nas primeiras músicas e, mesmo quando consertado, os bumbos de Guido Zima se mantiveram tão fortes que tornaram a experiência para aqueles no front e uma parte da pista comum em uma verdadeira sessão de tortura.


Uma pena, pois até mesmo no famoso cover de Small Town Boy, por Bronski Beat, que na interpretação da banda fica algo completamente imersivo, mesmo prendendo momentaneamente a atenção daqueles que pareciam não ter interesse, fora os fãs mais assíduos da banda (e mesmo alguns dentre eles), que pareciam relevar a questão sonora. De resto, a experiência do show da banda acabou sendo, não outra senão uma de completa decepção. Uma pena, em contrapartida à entrega e qualidade sonora da qual se sabe que o Paradise Lost poderia ter entregue.

Paradise Lost

HOT STAGE: Kamelot | Symphonic/Power Metal | Estados Unidos


Kamelot que chegava para sua segunda apresentação seguida no Bangers Open Air (confira a resenha da apresentação do primeiro dia clicando aqui), tinha um grande desafio pela frente: não só superar a entrega tida no dia anterior, como também apresentar um material que gerasse um impacto suficientemente forte para fazer valer a dobradinha e não gerar aquele senso de repetição. Nesse sentido, acertaram em cheio nas alterações e elementos novos trazidos para o dia.


Começando já com uma inédita do final de semana, Phantom Divine (Shadow Empire), que já começou dando um belo gosto do quão diferente poderia ser um segundo show do Kamelot, quando inesperadamente entrava para realizar o dueto junto a Tommy KarevikAdrienne Cowan (Sevenspires/Avantasia), causando um completo alvoroço entre os presentes, até porque nas primeiras fileiras do front row já se concentravam os fãs de Avantasia que aguardavam o grande headliner da noite.


O setlist modificado contou ainda com as faixas Opus of the Night (Ghost Requiem), Sacrimony (Angel of the Afterlife), contando ainda com o poderoso e magnético trio de vozes entre TommyAdrienne Melissa, The Human Stain e Center of the Universe. Os destaques ficam ainda para uma máscara utilizada por Melissa Bonny em Opus of the Night, que adicionou um nível de dramaticidade ímpar, e em Forever, reservado para uma puxadinha de We Will Rock You do Queen, com direito a descida de Tommy ao público, seguida de um “desaparecimento” de alguns bons segundos que resultaram em risadas de seus companheiros de banda, conforme este encontrava seu caminho de volta para o palco.



Com direito a toda a dramaticidade, cenografia e momentos como a grande bandeira do Brasil sendo hasteada, ficou claro que realmente o Kamelot, ainda que recebendo a missão de última hora de abraçar a performance dupla, soube muito bem como aproveitar o momento, dividindo grandes hits de seu acervo por entre os dias e contando ainda com bons momentos para cada um, daqueles que fazem com que quem viu ambos se sinta completamente satisfeito (sem enjoar), e quem acabou vendo um ou outro, sentindo igual inveja da outra parte, pois cada um teve seus momentos únicos e especiais.

Kamelot

ICE STAGE: Kerry King | Thrash Metal | Estados Unidos


Uma banda que carrega um nome que simplesmente dispensa quaisquer introduções e comentários, talvez uma das performances mais aguardadas do dia e do Bangers, e que com certeza trouxe uma legião de fãs do metal mais extremo, que certamente não estariam lá não fosse um dos deuses do thrash, Kerry King, que, desde a última vez, parece estar pleiteando seu CPF devido à sua já longa estadia nas terras do verde e amarelo para a promoção de seu álbum de lançamento From Hell I Rise e o show realizado no domingo.


Reunindo amigos e membros que dão inveja a quaisquer outros, como Kyle Sanders (ex-Hellyeah) nos baixos, Paul Bostaph (Slayer) na bateria, Phil Demmel (ex-Machine Head) na guitarra e Mark Osegueda (Death Angel) nos vocais, tivemos uma excelente aula do bom e velho thrash metal, que simplesmente separou as crianças dos adultos (com pitadas de trogloditas inconvenientes), entre moshs insanos contendo sinalizadores, tênis voando e muito bate-cabeça.

Apesar dos gritos constantes de “SlayerSlayerSlayer” e, ainda que claro, inegável a importância e relevância do nome, da banda e de Kerry para a cena como um todo, chegava a ser desconfortável em alguns momentos essa simbiose extremista por parte de algumas pessoas do público, quase como ignorando por completo a forte seleção de músicas compostas no álbum de estreia da banda, que são, em essência, o Slayer (e inclusive algumas compostas para o Slayer). Where I Reign, Rage, Residue, Idle Hands e a auto-intitulada From Hell I Rise são ótimos exemplos disso, mostrando que Kerry ainda tem muita lenha para queimar e que, se depender dele, está pronto para causar a insônia de muitas mães conservadoras por algumas gerações.


E claro, alimentando o amor e desejo de todos, houve ainda espaço para Disciple, Black Magic e a eterna Raining Blood, sendo um dos momentos mais apoteóticos do festival, quando parecia que o tempo fechava e o pau comia de canto a canto. Uma menção honrosa para também Two Fists, música de Kerry com uma pegada mais punk, dando um ótimo contraponto à performance, e Killers, um cover do Maiden da era do falecido e grande Paul Di’Anno, que, em sua essência, foi força motriz para o desenvolvimento do metal extremo.



Um show forte, pesado, mal encarado, que com certeza foi um dos pontos altos do festival, que trouxe muita emoção para todos de um modo geral e deu um gosto do que podemos ver ainda algumas vezes por nossas terras e que, mesmo não sendo o Slayer, traz sim toda a qualidade e competência de um material para ser tão bom quanto.

Kerry King

HOT STAGE: Blind Guardian | Power Metal | Alemanha


A poeira começava a assentar após um dos reis do thrash deixar o palco e, tão rapidamente, no outro, era a hora de um dos reis do power metal tomar seu lugar. Ainda que na certeza de que deveria estar assistindo de canto de olho à performance do vizinho (vide o grande amor por Slayer que Hansi Kürsch, vocalista do Blind Guardian, tem), era o momento do retorno de uma das bandas que esteve recentemente por aqui, sendo headliner do palco Ice em 2023 no Summer Breeze Brasil (e seguido de uma turnê completa no fim daquele mesmo ano). Uma banda que não esconde o amor pelo Brasil e que, nos 42 do segundo tempo, abraçou sem pensar duas vezes a missão de vir para completar o desfalcado line-up, juntamente ao Destruction, quando o Knocked Loose e o We Came as Romans cancelaram sua participação.


Um show previamente intitulado de “As melhores de todos os tempos”, ainda assim a apresentação do Blind Guardian permanecia uma incógnita, justamente pelo vasto acervo de músicas que, em sua maioria, transportam o ouvinte para o mundo da fantasia medieval, entre jornadas épicas, dramáticas e poderosas. Ainda que girando apenas entre metade de seus álbuns e deixando muitos grandes hits de fora desta vez para acomodar o tempo mega curto, tivemos algumas inesperadas e gratas surpresas.


Da justiça ao novo álbum, que, mesmo infante, já se tornou um favorito dos fãs e que teve duas de suas melhores músicas presentes, Blood of the Elves e Violent Shadows, aos títulos mais recorrentes e que sempre despertam a paixão, os “ÔôÔôÔ’s” e os gritos da plateia com Into the Storm, Bright Eyes, Time Stands Still (At the Iron Hill) e, é claro, a inescapável trinca de Bard’s Song (In the Forest), Mirror Mirror e Valhalla, esta última quase que como um inesperado bis, que teve o aviso da produção de que poderia ser tocada, já que haveria tempo (até porque, mesmo que não o tivesse, o ensandecido público provavelmente teria cantado em pleno coro a capella).


Mas as músicas que certamente impressionaram os fãs e trouxeram sorrisos aos rostos de Marcus Siepen (guitarra), André Olbrich (guitarra), Hansi Kürsch (baixo) e Frederik Ehmke (bateria), juntamente aos músicos de turnê Johan von Straus (baixo) e Michael Schüren (teclados, e uma grata surpresa desde que passou a ser mais substituído por Kenneth Berger a partir de 2023), ficaram com And the Story Ends, clássica e poderosa, que faz sua aparição aqui e ali, mas a mágica mid-tempo Mordred’s Songs, retornando desde 2017, e Tanelorn (Into the Void), que desde 2016 não via os palcos. Faixas essas que são verdadeiras gemas perdidas no tempo (ou melhor, nas gavetas) e que deixaram os fãs mais ávidos boquiabertos, com a sensação de que realmente aquele haveria sido um presente especial para São Paulo.



Trazendo sua energia, carisma e vibração que dispensa comentários (e que muitas das vezes nem precisa ser dito nada, o próprio coro do público começa e termina por si só ao longo do show), a performance do Blind Guardian, apesar de pontual, foi impecável, digna de headliner e de, com certeza, mais tempo, mas sendo na medida pelo tempo que foi. Uma escolha acertada e segura por parte da produção, mas que, longe de ser vista como algo ruim, muito provavelmente seria sempre celebrada, toda vez que estes anunciassem os alemães para compor o cast do evento.

Blind Guardian

ICE STAGE: W.A.S.P. | Heavy Metal | Estados Unidos


Outra instituição do metal que fez brilhar os olhos de muitos quando anunciada, a cíclica W.A.S.P., que visita nossas terras a cada bons anos, fez seu retorno para a verdadeira comemoração dos amantes do heavy metal tradicional. Com mais de 40 anos de estrada, a banda surpreendeu a todos quando voltou semi-atrás e acabou fazendo algo que Blackie Lawless (vocal e guitarra) havia dito que não fariam: tocar seu álbum auto-intitulado na íntegra. De fato, se você considerar Animal, Show No Mercy e Paint It Black, realmente não foi tocado na íntegra, mas, com exceção desses três, tivemos um show completo homenageando este álbum com mais de 40 anos de história.


Uma coisa extremamente interessante, pois ao começar com I Wanna Be Somebody, eterno hit da banda, o desafio dado era o de prender a atenção daqueles fãs mais casuais e os desconhecidos com o restante de seu acervo, que para os demais heavy metaleiros não era sequer um desafio. Neste ponto, vale a menção de toda a estrutura de palco que, no jogo de luzes e vídeos do backdrop, complementava perfeitamente a banda, que, na simplicidade de suas vestes chamativas e dignas dos anos 80, transformava tudo aquilo em um verdadeiro espetáculo visual, com o destaque, é claro, ficando pela distinta bateria com seus pratos içados por uma estrutura circular, dispondo de pratos ao seu entorno. Falo do estilo “PsychOctopus” do brasileiro Aquiles Priester, que compõe as apresentações ao vivo do W.A.S.P. desde 2017, se mostrando um verdadeiro monstro frenético.



Monstro este que, para além da exaltação dos brasileiros em comemoração àquela verdadeira festa, teve ainda uma grata e emocionante surpresa após The Torture Never Stops, finalizando a apresentação do álbum, onde o baterista, ao invés de um solo, saiu de seu tanque de guerra para proferir um discurso em português de agradecimento, satisfação e realização pessoal pelo momento, pela noite e registrando aquele como a performance mais importante de sua vida.

Fala essa que foi um dos pontos altos da apresentação, seguida pelo restante do set, com direito a um cover de The Who, com The Real Me, Forever Free/The Headless Children, o hino Wild Child e Blind in Texas finalizando mais uma passagem destes titãs do metal em solo brasileiro.

W.A.S.P.

WAVES STAGE: Warshipper | Death/Black Metal | Sorocaba/SP


Provando que existe sim muito espaço para o metal extremo no festival, e mais ainda quando essa mistura se une ao nacional, os sorocabanos do Warshipper chegaram aos palcos para provar que nem mesmo a disposição de teatro seria o suficiente para descaracterizar a energia crua do bom e velho Death Metal.


Com muitas pessoas dispostas pelo auditório, fossem sentadas ou, como a maioria, próximas ao palco batendo cabeça freneticamente aos comandos de Renan Roveran (vocal e guitarra), a imponente presença do músico, pela sua estética com grandes músculos e mais tatuagens do que pele, somado aos seus poderosos gritos, parecia fazer as estruturas do palco Waves balançarem (só não mais que as cabeças), reforçando a pura qualidade sonora que rolava ali entre os riffs afiados e as batidas do bumbo.


Tocando uma mescla das músicas de seu acervo, como Religious Metastasis, Barren Black e Respect!, a mensagem anti-cristã foi pregada tal qual uma missa negra, apoiada pela curiosa dualidade entre o espaço e o som, que, mesmo colocando os músicos em uma disposição atípica e que passava a ligeira impressão de um certo desconforto não aparente, mas de quem sente falta de um espaço que permitisse todo o movimento requisitado de um show de metal extremo e de bateção de cabeça. Apesar disso, o Warshipper mostrou para o que veio, incendiando o local e mostrando a força do metal nacional.

Warshipper

SUN STAGE: Destruction | Thrash Metal | Alemanha


Membros do famoso “Big 4” do thrash alemão, o Destruction é outra lenda alemã com mais de 40 anos de estrada que já deve ter feito o pedido de seu CPF brasileiro. Nem um pouco estranhos a nós e com um público sedento e fiel, a banda, assim como o W.A.S.P., presenteou os fãs com a comemoração de 40 anos de Infernal Overkill, tocando o álbum na íntegra, trazendo puros momentos de bate-cabeça, moshes e caos.


Aos comandos dos gritos agudos de Schmier (baixo e vocais), a vista era a de um show do Kerry King 2.0 à noite, com os metaleiros mais livres para causarem o caos, como foi o caso de, inclusive, ter presenciado pessoas “ilhadas” em um mosh, ou seja, com a ciranda de mãos e cotovelos comendo solta e pessoas completamente desavisadas (mas se divertindo) ao centro.



Houve tempo ainda para ouvir grandes clássicos como Total Desaster, Mad Butcher, Nailed to the Cross (escolhido ao invés de Thrash ‘Til Death) e Destruction, do novo e já nascido clássico álbum, Birth of Malice. Surpresa grata ainda aos fãs que se surpreenderam, apesar da escolha tida anteriormente, com o próprio Thrash ‘Til Death fechando a noite do palco Sun da edição de 2025 com chave de ouro, joelhos ralados e muito suor. Curioso destacar também, e reforçando a tese da necessidade de um CPF, o próprio Destruction anunciara em suas redes, para o dia seguinte, uma exibição de um filme-documentário gratuito em São Paulo, com direito ainda a fotos e autógrafos após a sessão. Se isso não pede uma naturalização, eu não sei o que mais pediria.

Destruction

WAVES STAGE: The Heathen Scÿthe | Death/Black Metal | São Paulo/SP


Trazendo um giro completo de 180º para a ambientação do espaço Waves, a banda escalada para finalizar os trabalhos deste palco na primeira edição do Bangers Open Air foi nada mais, nada menos que o The Heathen Scÿthe, uma inovadora e recente banda que, apesar de ainda não ter lançado seu álbum de estreia, já se configura entre grandes shows e festivais, como o caso do BOA.


Você já ouviu falar em Post-Apocalyptic Pagan Metal? Pois então, prepare-se. Conhecida por sua fusão de metal com temáticas de ocultismo e paganismo de diversos países, a banda possui uma identidade bastante característica com forte apelo visual, não somente nas indumentárias, mas também com elementos de palco como uma espécie de púlpito para o vocalista, paredes cenográficas, muitos adereços nas vestimentas, e todo um aparato em volta dos teclados. Até foice e megafone foram usados! Cada membro parece encarnar um personagem, construindo uma narrativa imersiva que vai além da música.


Esse apelo visual à atmosfera se refletiu na apresentação. A iluminação do palco combinou bastante com a estrutura do auditório. Embora ache que a banda merecia um espaço em um palco maior, bem como um horário com maior movimentação. Se bem que, por outro lado, num ambiente mais intimista, fica melhor para perceber nuances e detalhes que, eventualmente passariam despercebidos em um palco aberto e em meio a uma multidão. Ser a última banda a se apresentar, querendo ou não acaba tendo um público menor. Mas não quer dizer que foi um público pequeno ou tímido.


Comandados por Da’at (vocal), com sua foice e seu ornamento de chifres, em uma cerimônia, proferindo palavras de celebração e convocação de guardiões do mundo espiritual, totalmente imersos nos personagens, em uma atuação digna de theatro, Hokhmah (teclados), Hesed (guitarra), Netzah (guitarra), Malkhuth (bateria) e Yesod (baixo), apresentaram com toda empolgação e energia seus títulos mais conhecidos, como Into the Fire, The Heathen Scÿthe, The Offering e a animada Spiral Dance, que, apesar de não dispor do espaço necessário para o “mosh pagão”, fez com que o público presente desse seu jeitinho para improvisar mesmo assim, reunindo homens, mulheres, crianças e todo um público que festejava ao lado da banda, com o grande desafio de performar no palco mais distante, no mesmo momento em que a grande headliner da noite. 


Mas, ainda assim, provando que isso não era o suficiente para gerar incômodo e muito menos para não ter direito a um bom e cheio público, a banda ainda trouxe algumas inéditas de seu primeiro álbum de estúdio, que deverá chegar em breve, fazendo da noite uma de surpresas e gratidão. Esta, completamente visível no rosto dos músicos, que se enchiam de orgulho ao verem conhecidos, familiares e, principalmente, os desconhecidos, os curiosos que deram um voto de chance para celebrar o metal pagão e toda a dramaticidade e a envolvente sonoridade da proposta dos músicos, que ainda vão dar o que falar pelos palcos afora. The Heathen Scÿthe não apenas tocou, mas proporcionou uma experiência profunda de celebração, misturando peso, arte e uma ideologia própria.

The Heathen Scÿthe

E com isso, se finalizou verdadeiramente a primeira edição do Bangers Open Air. Deixando um pleno gosto de “quero mais”, a marca da satisfação parecia imperar nos rostos do público ao término do evento, onde muitos ali já falavam em participar da venda dos Blind Tickets, ingressos com preços promocionais que seriam disponibilizados à venda já na semana seguinte (para mais informações, clique aqui), para garantir sua participação no próximo evento.


Elogiado pelo público, pelos artistas e pelos colaboradores, longe de perfeito, este pareceu um exercício teste de uma nova administração que chega mostrando competência, disposição e jogo de cintura para gerenciar e promover o que hoje já passa a ser conhecido como um dos mais tradicionais e queridos eventos do Brasil, que tem tudo para continuar crescendo tanto em tamanho quanto qualidade.


Um evento que dá espaço para as novas bandas do mundo e do meio nacional, para, longe de ser uma apresentação “de museu”, o frescor e a novidade pairarem de uma forma em que você enxerga as novas gerações sendo impactadas, assim como o novo chegando para aqueles que já são sêniors na vida do metal e tudo isso, é claro, sem deixar grandes clássicos e importantes nomes de fora. Foram três dias de muito sol, trabalho e principalmente metal, nos quais tivemos o imenso prazer de fazer parte e contribuir de forma a narrar esses acontecimentos como quem quer dizer: venha e venha sem medo. Com toda uma estrutura e uma programação de tirar o fôlego (de verdade), o Bangers Open Air se consolida e agora resta a antecipação para os próximos nomes que devem vir a compor sua edição de 2026. Até lá!


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