Rato de Show • 24 de maio de 2025

Cobertura: Bangers Open Air - Dia 2 (Sábado)

Um segundo dia com muito metal "espadinha"

Uma colaboração com: oSubsolo - @osubsolo

Texto originalmente publicado aqui.

Fotos: Sidney Oss Emer


O dia começava cedo para as muitas pessoas que atravessavam a rua da Barra Funda para se alinharem à fila que começava a tomar forma em frente ao Memorial da América Latina. Um grande número já enfileirado de camisas pretas que se demonstravam ansiosas para o dia, aproveitando o clima festivo muitas vezes com uma cerveja em mãos. Celebração essa que viria junto a diversas opções quando pensado em um festival que concentrava mais de 40 atrações entre três dias (acesse aqui para conferir como foi o evento do Warm-up, na sexta-feira), quatro palcos, e diversas atrações, desde stands com vinis, jogos, acessórios e roupas, até gastronomia e é claro, a tão cobiçada Signing Sessions, dinâmica de autógrafos totalmente gratuita que o Bangers Open Air disponibiliza para seus frequentadores, tendo como requerimento a coleta de senhas e o máximo de um item para assinatura por pessoa (máximo de duas sessões de assinatura diferentes por pessoa por dia) e uma foto coletiva ao final.

Bangers Open Air

Local esse que foi o primeiro a formar fila logo após a abertura dos portões às 10h, pelos fãs mais ávidos que torciam para conseguir uma vaga para ter um breve momento de interação com seus artistas favoritos. Mas, mesmo cedo e com já suas centenas de pessoas rodando pelo Memorial, o clima presente era um de calor e dinamismo, com pessoas indo e vindo, fosse para pegar uma bebida antes de se aprumarem nas grades para ver os shows de perto, ou aqueles que ainda desfrutavam das regalias do Lounge Pass, indo para o local reservado para apanhar um bom café da manhã. Independentemente da escolha do momento, diferentemente de outros eventos em que existe uma concentração e um foco de pessoas em torno de um palco específico, a magia do Bangers Open Air para os paulistanos que carecem desta dinâmica de festival era uma que propiciava movimento, e consequentemente, vida.


Vida essa que é importante reforçar que, sendo um evento que ocorre todo ao mesmo tempo, enquanto um time enxuto, nós fizemos nosso melhor tentando registrar e relatar o maior número de atividades e artistas tidos durante o evento, através de nossos “agentes de campo”: o fotógrafo e redator Sidney Oss Emer e os redatores Pedro Delgado e Paula Butter, para o time do o'Subsolo, somado a equipe Rato de Show com Thalita Delgado. A seguir, você irá acompanhar os shows em sua ordem cronológica, com a sinalização do palco em que ocorreram para facilitar a visualização e o dinamismo desta cobertura. Iremos restringir o recorte aqui apenas dos conteúdos feitor pelo Rato e por Thalita Delgado. Demais conteúdos, checar a publicação original.

ICE STAGE: Burning Witches | Heavy Metal / Power Metal | Suíça


Inaugurando o segundo dia de festival (primeiro, se você é do tipo que não conta o Warm-up), chegavam as bruxas diretamente da Suíça do Burning Witches, com toda uma cenografia em palco que remetia à Idade Média, letras que não só se referem a mitologias e ao fantástico, mas também a críticas da percepção do feminino nesta época (e até hoje em muitos sentidos) e, é claro, muito metal oldschool com direito a grandes solos e uma baita potência vocal nos comandos de Laura Guldemond.


A banda, que já esteve por nossas terras a poucos anos atrás em sua estreia, esbanjava carisma e energia, em um daqueles momentos em que você sente que a própria banda não espera ter uma receptividade tão alta como acabou tendo. Ainda que cedo e mesmo sendo apenas manhã, a concentração de pessoas já se fazia, levando os horns para o alto, ora na enxurrada de “hey, hey, hey’s”, ora simplesmente entoando o nome da banda a plenos pulmões.


E não foi “apenas” a forte presença de palco, ou a máscara diabólica utilizada por Laura logo no fim da primeira música, Unleash the Beast, que marcaram a apresentação, mas, para além de seus hits mais conhecidos como Hexenhammer, Dance With the Devil e Wings of Steel (que, se diga de passagem, foi um dos momentos em que o público mais foi à loucura), tivemos ainda a aparição de uma música que não via os palcos há quase 6 anos, Maiden of Steel, selando a apresentação como não só uma ótima primeira impressão para aqueles que não as conheciam, mas também como uma de surpresa para os fãs da banda, que ainda, para além de sua signing session, foram vistas perambulando pelo complexo do festival, parando, tirando fotos e conversando com fãs ao longo do dia.

Burning Witches

HOT STAGE: H.E.A.T. | Hard Rock | Suécia


Mal o palco Ice tentava se resfriar com o calor das bruxas e era a vez do palco Hot mostrar ainda mais calor com o aguardado retorno dos suecos do H.E.A.T., fazendo seu retorno para o festival. Digo, pois a banda teve sua estreia no Brasil na primeira edição do predecessor, Summer Breeze Brasil, e já lá, totalmente surpresos não só com a receptividade do brasileiro, como da presença de um forte fã-clube que se concentrava com roupas customizadas, bandeiras e afins.


A mágica, que tornou a acontecer, serviu apenas como gasolina para aumentar a combustão do que foi a abertura da banda com Disaster, uma daquelas faixas que já nasceram como clássicos, vindas de seu álbum que acabara de sair a poucas semanas, o Welcome to the Future, uma visão de futuro que, mesmo que própria, bebe forte daquela noção oitentista que parece saída de um filme do Tron.


Com um backdrop que disparava diversas imagens e jogos de luzes, impossível não destacar toda a energia e bom humor de Kenny Leckermo, vocalista que vem chamando muita atenção por sua versatilidade (vide participação no álbum mais recente do Avantasia, Here Be Dragons) e sorriso estonteante que prende, cativa e faz você querer bater cabeça e jogar os braços para cima.


Um jeito perfeito de inaugurar um palco e continuar com a energia iniciada, o show do H.E.A.T. conseguiu comportar boa parte das obras da banda, incluindo as feitas na era Erik Grönwall (quando Leckermo esteve fora da banda por 10 anos) e foi uma daquelas que parece uma entrega além. Nas palavras de Leckermo, o Brasil como “um dos últimos bastiões do metal do mundo” tinha a obrigação (concluída com sucesso) de se doar tanto quanto os músicos, que, visivelmente felizes, sabiam que os tinham na mão. Um show que gerou tamanho impacto, que as únicas reclamações ouvidas por entre o público, fora a de merecerem um maior destaque em tempo de palco e de horário, como quem diz “esses caras deveriam ser co-headliners, no mínimo”.

H.E.A.T.

ICE STAGE: Municipal Waste | Crossover / Thrash Metal | Estados Unidos


Talvez um dos shows mais interessantes que passaram pelo festival, é sempre muito curioso poder experienciar o leque de subgêneros do rock e metal, no qual a sensação se foi de ter ido de um extremo para o outro em contrapartida a todas as apresentações (sexta inclusive) até aqui. Isso porque aterrissava no palco Ice os americanos do Municipal Waste, uma banda com quase 25 anos de trajetória e que, há 15, não pisava por aqui.


Não parecia, pelas vestimentas, que tínhamos saído dos anos 80 ainda, mas a atitude… a atitude era uma mudança brusca e completa, tomando as rédeas e mostrando para todos que a energia, a brutalidade e o caos do thrash metal haviam chegado e estavam prontos para detonar. E isso já ficou extremamente claro em uma das primeiras falas do vocalista Tony Foresta ao apontar para o público do Lounge e dizer: “Este show não é para vocês… É para vocês”, conforme apontava para a galera do público comum, que já fazia sua parte ao abrir as rodas mais insanas tidas pelo festival até o momento (e quiçá ao longo de todo).


A energia, os riffs rápidos, a fala agressiva e cortante, tudo aquilo que se pede de um bom show de thrash, indo curto e direto ao ponto, fizeram com que a banda simplesmente fosse a banda, ainda que não com o maior tempo de palco, a com o maior número de músicas tocadas, sendo 21 faixas ao todo. Provocativo e engraçado o tempo todo, Tony fazia diversas menções ao público que se concentrava no palco Hot à espera da próxima banda, pedindo por uma Wall of Death que fosse em direção ao público para os “moer”, mas sempre em um tom de brincadeira que, quando confrontado por alguém do público, fazia questão de devolver levantando sua blusa e mostrando sua barriga, quando não estava ocupado demais tentando derrubar um dos drones de filmagem.


Outro momento apoteótico e um dos pontos altos do festival foi quando, em meio ao mosh, alguém teve a brilhante ideia de levantar aos ombros uma pessoa vestida de Jesus, algo que desconcertou tanto o músico, que este teve que se dirigir para o baterista Dave Witte e pedir para interromper a música, apenas para rir e falar sobre o quão incrível era que “Jesus retornou dos mortos, p*ta que p*riu, e olha que nem somos religiosos…” e, na sequência, “só faltava o Eddie do Iron Maiden agora surgir para bater em Jesus”… e quem disse que isso não aconteceu? Logo na sequência, era levantado o famoso Eddie dos Moshes de São Paulo, clássico ícone presente em muitos shows com sua fantasia, arrancando ainda mais risadas do vocalista, que apenas desistiu de entender o que estava acontecendo quando, por último, até Goku fora levantado, organizando uma Genki Dama (movimento em que todas as pessoas levantam as mãos para o céu).


Esse tipo de baderna, de espírito livre e de sensação de se estar em um bar underground é uma coisa surreal de se pensar ser reproduzida em um local tão amplo e “limpo” como o Bangers Open Air, mas, por incrível que pareça, o Municipal Waste conseguiu materializar tudo isso e mais um pouco em seu show, que certamente ficou marcado como um dos pontos altos do dia e do festival. Ao fim, a banda aparentava estar totalmente satisfeita com a performance, prometendo ainda um breve retorno, porém em algum bar pequeno e “de merd*”, nas palavras de Tony, que realmente parece viver e respirar o espírito thrasher assim como seus companheiros.

Municipal Waste

HOT STAGE: Sonata Arctica | Symphonic Power Metal | Finlândia


Após a balbúrdia e a intensidade produzidas no palco Ice, era na realidade o momento das coisas esfriarem no palco Hot com os gélidos ventos da Finlândia trazendo as baladas épicas e dos sofredores de amores perdidos com o Sonata Arctica. Sem dúvidas, uma das bandas mais proeminentes do power metal, fazem do Brasil um segundo lar há muitos anos, refletindo na multidão que se assentava à espera dos maiores hits e um ombro amigo para chorar ao som de suas músicas dramáticas.


No entanto, o que tivemos em seu lugar foi um show ainda mais especial para aqueles verdadeiramente fãs da banda e isso porque, ao invés de clássicos títulos como Tallulah, Shy, Black Sheep, ou The Misery, ainda que tendo sim hits inescapáveis como Full Moon, Replica, I Have a Right e Don’t Say a Word, tivemos também músicas que ou fazia quase uma década que não viam os palcos, como San Sebastian, ou faixas extremamente cíclicas, como My Land e Wolf & Raven, uma talvez escolha ousada, mas que certamente foi um acerto para uma banda que vem com certa frequência para cá.


Ainda que talvez desconhecidas por muitos algumas de suas músicas, somadas àquelas presentes em seu último álbum de 2024, Clear Cold Beyond, é inegável o carisma de Tony Kakko e a ótima gestão dele do público e de sua própria energia em uma performance recheada de momentos dramáticos e polidos que refletem os mais de 25 anos de banda. Outro destaque se faz, como sempre, para a pessoa de Pasi Kauppinen, baixista que, sempre aos sorrisos, parecia caçar interação com a plateia.



Fechando com a chave transparente, tivemos ainda Vodka, uma rápida música de encerramento que diverte e anima pelo seu tom inesperado e brincalhão e que sempre combina com o clima festivo e de alta energia da banda, ainda que muitas vezes lidando com sentimentos profundos e de grande emoção, finalizando mais uma passagem da banda pelo Brasil.

Sonata Arctica

ICE STAGE: Kamelot | Symphonic Power Metal | Estados Unidos


Reafirmando a ideia de muitos de que essa edição de Bangers Open Air era uma dedicada aos amantes do metal espadinha, mal se finalizava o Sonata e já era a hora de receber um dos expoentes da sonoridade que une o melódico com o power há mais de 30 anos, o Kamelot. Desde as primeiras batidas de Veil of Elysium, o belo backdrop que se refere ao seu último álbum, The Awakening, representado por uma mulher com uma espécie de visor gigante em formato de meia-lua negra ligada a cabos que dão uma sensação cyberpunk e que se movimentava, ajudou a contribuir para toda a performance dramática e teatral da banda.


Com a presença de Tommy Karevik, inicialmente com roupas mais grossas e com capuz, o que parecia uma cena de tortura devido ao grande calor, inegável a presença etérea construída pelo músico através de suas brilhantes linhas vocais e grande alcance. O público que rugia, gritando ora o nome da banda, ora os refrões, parecia satisfeito com a setlist que compreendeu alguns dos maiores hits da banda, mas certamente não todos, o que já dava uma ideia de que, apesar de ser a única banda a se apresentar em dois dias de evento (devido ao cancelamento de última hora do I Prevail), teríamos dois sets bem distintos entre ambos os dias.


A performance como um todo, ainda que soando ligeiramente protocolar, teve muitos momentos de destaque, como a máquina chamada Sean Tibbetts no baixo entre suas dedilhadas e bate-cabeça, assim como o próprio Tommy hasteando uma grande bandeira do Brasil em One More Flag in the Ground, com direito também a uma puxadinha de We Will Rock You, do Queen, em Forever. Neste espaço de homenagens, tivemos uma puxada para Tom Sawyer, do Rush, durante um breve solo de bateria de Alex Landenburg (apesar de inicialmente ter dado um aparente descompasso, rs), mas certamente quem roubou a cena na performance foi Melissa Bonny, convidada para as músicas Veil of Elysium, New Babylon e Liar Liar (Wasteland Monarchy), as duas últimas onde, para além de sua voz limpa e melódica como contraponto à voz masculina de Tommy, tivemos também seus guturais viscerais e cheios de peso que foram os momentos nos quais os transeuntes que não haviam sido pegos pela proposta da banda paravam para observar de onde saía aquela voz infernal.



Ainda que outra apresentação “feita para fãs”, tal qual o Sonata, aparentemente o Kamelot não puxou tanta atenção quanto o anterior, mas certamente deixou um bom impacto para os amantes do gênero.

Kamelot

HOT STAGE: Saxon | Heavy Metal / NWOBHM | Reino Unido


Ao som de Hell, Fire and Damnation, uma das maiores instituições do heavy metal, para muitos tão grandes quanto o próprio Maiden, com quase 50 anos de história, o Saxon fazia sua estreia nos palcos do BOA, para dar uma verdadeira aula aos presentes sobre como se fazer música.


As demandas de “Go fuckng crazy*”, por Biff Byford, o coro constante de “Olê, olê, olê’s” reforçava a noção de reconhecimento de boa parcela do público do significado histórico que era poder contemplar cada riff, cada batida e nota cantada, fosse em Power and the Glory, Heavy Metal Thunder, 747, ou no tríplice hino de Wheels of Steel, Crusader e Princess of the Night.


Fato é que o Saxon apresentou uma boa safra do melhor do seu acervo, aliada a uma entrega que esbanjava vivacidade e energia que é bizarro de se pensar, quando postas à luz dos 74 anos deste vocalista, quando comparado a outros músicos na ativa que já mostram sinais de maior fragilidade, como Rob Halford e Klaus Meine. Neste ponto, Byford segue uma máquina imparável que comandou a noite, de olhares austeros a coraçõezinhos com a mão, onde o coro correu e o pau comeu, trazendo um balanço interessante para um evento que, ainda que tendo uma proposta de artistas e bandas mais “recentes”, contar com o poderio de uma banda experiente, quando necessário, encaixa bem, sem descaracterizar o festival como um todo.



Visivelmente satisfeitos e longe de serem estranhos ao público brasileiro, esses “tiozões” do metal acabaram por provar que não se precisa de muito para um verdadeiro show, fazendo bom uso do jogo de luzes predominantemente vermelhas do palco Hot, quebradas pelo amarelo e por vezes com uma bela peça de arte em seu backdrop, o resto era apenas muita pose, entrosamento e as cabeleiras loiras desses senhores indo o mais rápido possível, acompanhando o público que brilhava o rosto em alegria.

Saxon

ICE STAGE: Powerwolf | Power Metal | Alemanha


Sabe aquele momento quando o seu parente te diz que o metal é coisa do capeta e não tem nada que o vá mudar de ideia? Uma boa opção pode ser mostrar os alemães do Powerwolf, porque não tem nada mais que faça sentido do que lobisomens armênios cristãos lutando pela glória e contra a infernal presença de vampiros pela Europa, não é mesmo?


Com temáticas que misturam a religião, a fantasia e o humor, essa banda vem em uma grande crescente nos últimos anos, onde não à toa era um dos nomes mais pedidos para compor os palcos do evento desde a era de seu predecessor. E, igualmente, uma das bandas mais comemoradas quando anunciadas, sendo quase incoerente em vista de que, antes disso, o Powerwolf havia vindo apenas uma vez ao Brasil, em 2020, como banda de apoio ao Amon Amarth.


Mas seja pela boa impressão causada ou pela quantidade de seus vídeos e shows de sucesso nos maiores festivais europeus do mundo (incluindo alguns como headliners), fato é que um show desses caras é felicidade, pulos e cantoria na certa. A dualidade (e quase rivalidade) entre Attila Dorn (vocal) e Falk Maria Schlegel (teclados) cria uma ótima e divertida dinâmica que rendia risos e fazia todo o ensandecido público gritar a todo momento, fossem nas letras, fossem nos coros, ou simplesmente nos intervalos, onde bravam pelo nome da banda.


Acompanhados ainda de seus parceiros Roel van Helden na bateria, Charles Greywolf na guitarra e Markus Pohl na guitarra, em substituição a Matthew Greywolf, irmão do baixista/guitarrista, com uma cenografia bem mais reduzida do que a de costume, mas grande o suficiente para dar um ar de estrelato a essa banda que mistura inglês com latim, com pitadas de romeno e, a depender do dia, até um pouco de alemão.


Com carisma para dar e vender, brandindo sua enorme bandeira negra, passamos por diversas eras da banda em um show curto, talvez curto até demais e que, para alguns, possa até ter soado como negativo os muitos minutos dedicados a prender a atenção das pessoas e o diálogo constante com o público, mas que certamente se unificou em uma multidão que não parava de pé e saiu de lá completamente realizada, em um show que uniu gerações dentro de uma proposta honesta que não tenta ser mais daquilo que se propõe. Uma banda que sai pela segunda vez de nossas terras, mas que com certeza seria tola de não voltar brevemente para lotar mais shows.

Powerwolf

HOT STAGE: Sabaton | Power Metal | Suécia


Passado pouco tempo e mal havia o fôlego retornado para as caixas torácicas do público, elas se preparavam para se esvair uma vez mais com o fechamento dos palcos principais a cargo de outra banda altamente clamada, os historiadores do Sabaton. Imediatamente fazendo uma entrada de headliner com direito a fogos, rojões e estalos ao som de Ghost Division, o que parecia quase impossível de se pensar, que seria uma capacidade de entrega ainda maior do público, pareceu ser concluída, conforme mãos, copos, bandeiras e até tênis alçavam voo, enquanto o público festejava ao som das batidas e cantos sobre as guerras.


De Bismarck a Carolus Rex (em versão em sueco e mal se sabia que tanta gente sabia cantar em sueco naquele público), a The Art of War e Soldier of Heaven, a química de um show do Sabaton é simplesmente indescritível, onde é notório não só o apreço dos integrantes entre eles, mas também pelos seus fãs, sendo que, apesar de ser a primeira banda a ter pirotecnia e tudo aquilo que já comentei, parecia quase que demais, onde simplesmente essa interação já se paga em termos de performance (sim, talvez sejam falas de alguém com dor de cotovelo por não ter visto o característico tanque de guerra utilizado em palco).


Conversando com o público constantemente, quando não fazendo gracinhas, ao contrário do que se poderia pensar ao se presenciar uma banda que fundamentalmente aborda temas tão delicados e que marcaram tanto o mundo, é através de um frontman que cola palhetas em sua careca, ou tira uma guitarra da Hello Kitty para tocar, que você entende que não é sobre querer ser o machão truezão do metal, mas sim fazer algo que se gosta, porque gosta, aliado a uma composição rápida, frenética e que preserva a história do mundo, ainda que relatando partes difíceis sobre ela.


Emocionados, muitas das falas da banda vieram quase carregadas de um pedido de desculpas pelos 6 anos passados sem pisar em solo brasileiro, lamentados, porém rapidamente esquecidos através de palavras como “Fazia tempo que não vínhamos para cá, mas não viemos para ser fofos, viemos para o heavy fuck**ng metal*”… E é claro que, se isso não fosse o bastante, ao dizer “Eu não sei falar muito o português, mas tem uma coisa que eu sei falar”… seguido de “Cobras fumantes, eterna é sua vitória”, como não se emocionar pelo reconhecimento à nossa nação na forma de uma intensa música em que, de um lado, você via diversas bandeiras com cobras fumantes, mal se podia ouvir a voz de Joakim pelo grande coro da multidão cantando o refrão de Smoking Snakes. Uma sensação única que só quem vivenciou isso em meio àquele mar de gente poderá entender.



Trazendo ainda seu grande hino, Primo Victoria, somado a Swedish Pagans e To Hell and Back, difícil foi não sair desta experiência com a sensação de um verdadeiro sobrevivente à guerra, tamanho desgaste e cansaço após tantos saltos, vibrações e gritos em meio ao público. Definitivamente calando a quem não concordasse com sua posição como headliner e superando as expectativas daqueles que os aguardavam, o Sabaton fechou o palco Hot, se fazendo presente na memória através de um show inesquecível que incendiou o palco e deixou todos satisfeitos.

Sabaton

Ainda que tendo seu início bem mais cedo do que na sexta-feira, a sensação foi a de um festival que passou no estalar de dedos, daqueles em que, como diz o ditado, “quando a coisa é boa, o tempo voa”, onde prevaleceu o clima de companheirismo e de comunidade. Claro que ainda damos nossos primeiros passos neste sentido, onde existe, sim, o individualismo e o péssimo comportamento, como visto entre conflitos, brigas e desrespeitos, mas estes pareceram ser apenas um recorte de momentos em que, na maioria, a alegria era a de ver famílias, casais, amigos e pessoas sozinhas se divertindo, conhecendo bandas e outras pessoas, bebendo e simplesmente se permitindo ser dentro de um festival aberto ao diferente e às pessoas.


Fazendo valer a espera anual até aqui, certamente com um dia mais quente que o anterior, a expectativa seria a de uma repetição de fórmula no domingo, último dia do evento, deste que certamente faz jus ao título de maior evento de metal do Brasil e que não deixou a desejar em termos de estrutura, operação e execução.


Confira o que rolou na sexta feira, clicando aqui.
Confira o que rolou no domingo, clicando aqui.