Matanza Ritual (SP)
Texto por: Heitor Lamana
Fotos por: Heitor Lamana
Agradecimentos: Tedesco Mídia e Abstratti Produtora
Algumas bandas conseguem a proeza de automaticamente associar seus nomes a bons e divertidos shows, eternizando sua marca e fidelizando os fãs. O Matanza Ritual é, inegavelmente, uma delas. Lançando este ano seu primeiro álbum de título “A Vingança é meu Motor”, a infernal noite desta última sexta-feira na cidade de São Paulo foi selecionada para um dos últimos shows da turnê, onde o grupo subiu a já elevada temperatura do Carioca Club e talvez tenha ocasionado alguma espécie de sismo na Escala Richter (dada a tamanha movimentação e energia dos fãs na pista), reforçando ainda mais essa associação do nome Matanza a celebrações históricas. O evento também contou com a banda de death metal melódico paulista Throw me to the Wolves, iniciando os trabalhos magistralmente e tendo como participação especial simplesmente Marcello Pompeu, vocalista da lendária banda de thrash metal brasileira Korzus.
Era uma noite quente e abafada nos arredores do Largo da Batata daquela sexta-feira. A previsão meteorológica garantia uma máxima de 34ºC e nada indicava o contrário. As portas abriram no horário esperado e logo o público se amontoou em frente ao palco do local, no aguardo das apresentações. Menos de meia hora depois, a
Throw me to the Wolves começava seu show. Formada por
Diogo Nunes (vocal),
Guilherme Calegari (guitarra),
Maycon Avelino (bateria),
Fabrício Fernandes (guitarra) e
Fábio Fulini (baixo), a jovem banda já tem um robusto currículo de shows em sua bagagem, tendo acompanhado nomes como
Exodus,
Possessed e Hammerfall em suas turnês pelo Brasil.
Abordando como temática o ctônico, abriram o show com ‘Chaos’ e ‘Tartarus’, rapidamente caindo nas graças da plateia, que se mostrava agitada, mas, ao mesmo tempo, atenta à apresentação. Em seguida tocaram ‘Days of Retribution’, faixa-título do primeiro álbum do quinteto. Mesclando peso com muita técnica e os bárbaros vocais de Diogo, a banda mostrou aos presentes todo seu talento e profissionalismo que logo seria testado.
Durante ‘An Hour of Wolves’, homenagem ao clássico da literatura fantástica do século XX ‘O Senhor dos Anéis’, mais precisamente ao discurso do personagem Aragorn em face de provações hercúleas, o banco do baterista Maycon Avelino quebrou, interrompendo a música subitamente. O que seria para muitos uma situação desconcertante e desanimadora, para a Throw me to the Wolves foi moleza; com muita calma e bom humor, a situação foi normalizada em segundos e a música reiniciada e, de forma poética, afugentando a hora dos lobos mencionada no som.
Por último, mas não menos importante, chamaram ao palco o lendário vocalista do
Korzus, Marcello Pompeu, para uma participação em mais uma referência ao mundo greco-romano intitulada
‘Gaia’. O que falar desse crossover? A presença de
Pompeu
sempre engrandece qualquer evento em que ele participa, tamanho é seu carisma e aqui não seria diferente; o que já era uma apresentação para além de excelente se tornou divina conforme este verdadeiro titã do metal brasileiro eletrizava a todos. Em suma, o espetáculo acendeu ainda mais holofotes para o quinteto. Com profissionalismo, técnica e agressividade cravados em sua identidade, a
Throw me to the Wolves entregou uma abertura de peso, provando que seu sucesso crescente é fruto de um trabalho árduo e meticuloso.
A pista da casa estava terminantemente obstruída por pessoas e o calor humano transformara o espaço em uma caldeira. Pouco menos de 20 minutos depois (quase sem pausa para o descanso), o Matanza Ritual iniciava sua missa. Após uma breve intro, ‘Meio Psicopata’ deu o tom para o restante da noite; estavam afiados e o público totalmente convulso. Da grade ao fundo da pista, todos se mexiam freneticamente. Nem mesmo o camarote, com o conforto de seus bancos acolchoados, estava salvo do alvoroço. A regra era clara; errado estava quem ficasse parado.
Era um baita dia especial para a banda, pois estavam oficialmente apresentando seu mais novo e primeiro disco para os paulistanos. Lançado em março deste ano,
‘A Vingança é meu Motor’ buscou manter a essência do Matanza sem, entretanto, suprimir a identidade e a criatividade artística dos integrantes do Ritual ao longo de suas 13 faixas. A recepção por parte dos espectadores foi um sucesso e refletiu-se no show; era impossível distinguir a intensidade dos coros das canções antigas e das novas. Era como se essas músicas estivessem no repertório do Matanza desde sempre e suas letras sabidas de cor. O esquadrão responsável por guiar toda essa maré de gente era de elite;
Antônio Araújo na guitarra,
Amílcar Christófaro na bateria e o baixista
Renan Campos (que substituía
Felipe Andreoli, em turnê com o guitarrista
Kiko Loureiro
pela Europa), acompanhados logicamente do patriarca
Jimmy London nos vocais.
O show seguia e todas as músicas eram gabaritadas pelo público, que cantava como se tivessem piamente estudado toda a discografia do Matanza antes de adentrar o recinto.
‘O Chamado do Bar’ e
‘Eu não Gosto de Ninguém’ são dois destaques do início do set, que contou ao todo com 26 músicas. Um fato muito curioso e extremamente salutar que notei foi o número baixo de celulares ligados durante o espetáculo. Em tempos dominados por redes sociais narcisísticas onde muitos artistas cogitam a proibição de smartphones nas casas de shows (tamanho o número de aparelhos conectados), ver a naturalidade com que a audiência aproveitou o momento chega a ser espantoso de uma maneira boa e demonstra a força do patrimônio cultural que é o Matanza.
Foi anunciada a clássica ‘O Clube dos Canalhas’. O público comemorou e vibrou com a notícia. No meio da música, Jimmy pediu à plateia para abrirem a roda enquanto preparava o terreno perguntando o nome de seu clubinho. Um corte na transversal percorreu ponta a ponta da pista, bem como Moisés abrindo o Mar Vermelho. Nesse meio tempo, alguns corajosos saltitavam em meio aquele buraco, pouco se importando com o que viria a seguir. Chegou-se ao clímax do som e as ondas se chocaram no momento mais catártico daquela noite. Cabelos balançavam no ar, cervejas eram esparramadas e muito, mas muito suor escorria dentro do que foi uma das maiores muvucas que já presenciei dentro do Carioca Club.
A noite ainda estava muito longe de terminar e ainda havia muito countrycore pela frente.
‘Pé na porta, soco na cara’,
‘Tempo Ruim’ e a nova
‘Lei do Mínimo Esforço’ vieram em rajada, uma atrás da outra, e a energia dos presentes era inesgotável. Em relação à perfomance dos músicos, há pouco o que se falar (principalmente considerando o naipe e a carreira brilhante de cada um deles) exceto de que foi primorosa. Tocaram uma última (e uma das melhores) música do mais recente trabalho de nome
‘Nascido num Dia de Azar’. Pouco depois, a intensa ‘Interceptor V-6’
manteve os moshpits em plena termogênese. Por fim, finalizaram o show com
‘Ela Roubou meu Caminhão’,
‘Ressaca sem Fim’ e um inesperado bombardeio de
‘Interceptor V-6’, reprisada com ainda mais intensidade.
Em uma noite com a sensação térmica próxima (se não superior) à boca de um vulcão em erupção, o Matanza Ritual mostrou como preservar um legado de sucesso ao mesmo tempo em que se adicionam novos ingredientes à receita.
As canções de seu novo álbum
‘A Vingança é meu Motor’ que foram tocadas no setlist se mostraram indistinguíveis das antigas quanto à recepção do público, prova irredutível de seu sucesso absoluto. A entrega por parte de
Jimmy,
Antônio,
Amílcar e
Renan, somada ao vigor inexaurível dos fãs construiu uma atmosfera leve e com um sentimento de pertencimento difícil de descrever com precisão. Com toda certeza, aqueles que estiveram ali saíram satisfeitos e ansiosamente no aguardo de novos shows do
Matanza Ritual, certos que terão o mesmo nível de diversão.
Throw Me To The Wolves - setlist:
- Chaos
- Tartarus
- Days Of Retribution
- Fragments
- Awakening My Demons
- Gates of Oblivion
- An Hour of Wolves
- Gaia feat. Pompeu
Matanza Ritual - setlist:
- Meio Psicopata
- Remédios demais
- A arte do insulto
- Bom é quando faz mal
- O chamado do bar
- Eu não gosto de ninguém
- Tudo errado
- Carvão, enxofre e salitre
- Assim Vamos Todos Morrer
- Clube dos canalhas
- O último bar
- Maldito hippie sujo
- Pé na porta, soco na cara
- Tempo ruim
- Lei do Mínimo Esforço
- A casa em frente ao cemitério
- Conforme disseram as vozes
- Quando bebe desse jeito
- Melhor sem você
- Mulher diabo
- Nascido Num Dia de Azar
- Mesa de saloon
- Interceptor V-6
- Todo ódio da vingança de Jack Buffalo Head
- Ela roubou meu caminhão
- Ressaca sem fim
- Interceptor V-6









