Cobertura: Sugar Kane (SP)

Sexta-feira 13, dia de terror, brutalidade, coisas horríveis, e não tem nada que assuste mais até o fã de black metal mais trve kvlt do que banda de hardcore melódico e banda com mulher no vocal. Ativos na cena há quase 30 anos, o Sugar Kane tem indubitavelmente se tornado um dos nomes mais importantes do hardcore nacional, sendo a trilha sonora das memórias de muitas pessoas ao longo dos anos 2000. Apresentando um som mais feliz, sem ser aquele hardcore para sair na mão até com senhorinha na rua, não são todos que gostam do seu som, mas não há como negar a nostalgia inerente que vem com faixas como Janeiro, mesmo se você nunca tenha escutado-a na vida.

 

Após algumas demos e aparições em compilados, a trajetória de sua carreira só realmente começou com Once One Day, lançado no começo do milênio, que já serviu para dar uma boa ideia de como seria a sonoridade dos paranaenses dali para a frente, um hardcore melódico reto e direto, mas aquele CD tinha uma grande diferença, as músicas eram todas em inglês, seguindo a linha de bandas como Hateen, Dance of Days e Dead Fish (que inclusive teve sua música You Against interpretada pelos curitibanos no primeiro álbum), que também faziam sucesso na cena independente à época - e perduram até hoje.

 

Assim como as demais bandas mencionadas, não demoraria muito para que abraçassem sua língua materna, com Por Nossa Paz, de 2001, já sendo cantado inteiramente em português. Seria com este último e o agora clássico Continuidade da Máquina (2003) que teriam seu maior impacto, com este mesmo CD sendo lançado em outros países da América do Sul, fora uma edição americana, resultando também em uma série de shows no exterior, e posteriormente no DVD 469 DCM, registro de um show no Hangar110, primeiro DVD de uma banda de rock independente no Brasil. 

Sugar Kane

Àquela altura, músicas como Medo, Janeiro e A Máquina já haviam se tornado hinos entre os jovens (mas que frase de velho, não?) e parecia que nada nunca iria conseguir parar o Sugar Kane, e foi praticamente isso que aconteceu, deram uma “escorregada” breve com Elementar (2005), que arriscou um som mais próximo do rock alternativo, que trouxe um hiato no ano seguinte, mas desde sua volta com Diversão Esquizofrênica para Mentes Ociosas (DEMO, 2007), não pararam mais, ralando incessantemente no underground e trabalhando para deixar sua marca na cena. Fecharam os anos 2000 com A Máquina Que Sonha Colorido (2009), enquanto 2010 trouxe alguns lançamentos em inglês - These Days e Digital Native, com Fuck the Emo Kids, que tinha músicas em português vindo logo depois, em 2011.

 

Fora alguns álbuns ao vivo e singles esporádicos, a década de 2010 foi marcada apenas por Ignorância Pluralística, que o próprio Capilé, vocalista, disse no show que era facilmente seu álbum mais esquisito. Pouco depois da pandemia, ressurgiram com Novidade Média (2021), um retorno a um som mais melódico, mas com uma maturidade e peso emocional de verdadeiros veteranos. Então, chegamos ao ponto atual, com Antes Que o Amor Vá Embora, lançado no ano passado, um verdadeiro soco na cara de nostalgia, que mostrou que mesmo após 26, agora 27 anos de estrada, a máquina continua ativa, e janeiro pode ter acabado, mas a motivação e criatividade de Alexandre Capilé (voz/guitarra), André Dea (bateria), Vini Zampieri (guitarra) e Carlos Fermentão (baixo) está longe disso.

 

Foi a turnê exatamente deste disco que trouxeram para a La Iglesia, “point” já conhecido pelo público paulistano, que apesar de alguns chamarem de “underground gourmet” por conta de sua estrutura, segue sendo um lugar para verdadeiramente cultuar qualquer tipo de som alternativo, desde os death metals mais brutais, até esses hardcores felizinhos, som de usuário de Vans. Eles não seriam a única banda a assumir o palco da igreja mais querida dos trevosos de plantão, pois aquela sexta-feira também veria apresentações da Wasted Kidds, banda de rock alternativo (com aquele cheirinho de pós-punk) diretamente das profundezas de Guarulhos e da swave, supergrupo formado por Cris Botarelli (baixo, vocal, que infelizmente não esteve presente no dia do show), Rafael Brasil (guitarra), ambos do Far From Alaska, Murilo Benites (guitarra), envolvido com o Colomy, além do próprio André Dea, do Sugar Kane, que também integra o Violet Soda e Supercombo na bateria, que também foi substituído no dia, por conta da outra apresentação.

Sugar Kane no La Iglesia

A casa ainda estava praticamente vazia quando o relógio se aproximava das 21:00, horário marcado para o início dos shows, mas não é como se fosse grande surpresa, pois estava um frio absurdo naquele dia, mínima de 15 graus com máxima de 19, mais frio do que os corações daqueles que passaram o dia anterior (dia dos namorados) sem ninguém ao lado. Neste mesmo clima de afogar as mágoas por ter passado o dia dos namorados sozinho, a “juventude gasta” começou seu show pontualmente, exatamente no horário, ao som de Insônia, single lançado em 2023 que atualmente conta com mais de 50 mil streams no Spotify, posicionando-se firmemente no top 5 do grupo. Com um som mais leve, fácil de acompanhar, não era difícil de estar curtindo aquele momento, dadas as músicas simples, mas que funcionam bem, entregam exatamente o que prometem. Deram sequência com Não Vá Embora Sem Mim, mais uma para sofrer, chorar e dançar com a parede, que tem um refrão poderoso, emocionante, que ecoou forte pelas paredes da Iglesia.

 

Trazendo riffs limpos, existencialismo, e claro, depressão, que não pode faltar de maneira alguma, veio mais um de seus singles, Deus Ex Machina. Falando em depressão (de novo), um acontecimento que deixou muitos da cena alternativa se sentido sem rumo, algo que parece ser insuperável até os dias de hoje, foi o fim do icônico Title Fight, que mesmo com apenas 15 anos de trajetória, deixou uma marca e tanto no mundo do pós-hardcore. Enquanto eles não voltam, temos diversas bandas para homenageá-los, e a própria Wasted Kidds foi uma delas, decidindo executar Leaf, um de seus maiores hits. Deu para sentir a sensação de vazio que bateu em Kevi, vocalista, quando ele perguntou quem conhecia o Title Fight e absolutamente ninguém respondeu, mas mesmo assim, levaram a galera direto para a Pensilvânia com seu cover fiel.

Wasted Kidds no La Iglesia

Passando para o meio do show, destacaram seu primeiro álbum, o genialmente intitulado Qualquer uma das Merdas Que Eu Pensei (2022), título que captura perfeitamente a ansiedade e autodepreciação de uma geração inteira, algo perfeitamente trabalhado também nas próprias faixas. A primeira desse bloco seria Meu Amor Não Sabe o Que Faz, seguida pela rápida Por Que É Tão Complicado?, que logo nos primeiros versos já captura exatamente o sentimento que falei acima: “Por que viver dói tanto? / O que será de mim? / O que será de mim? / Sem orgulho eu vivi minha vida inteira”. O vocalista havia dito que aquela era a hora de abrir a roda, mas o público, ainda um pouco morno (não por culpa da banda, que estava realmente dando a vida no palco) preferiu ficar mais na sofrência.


Fecharam com chave de ouro, simplesmente com 3 de seus maiores hits, Afrodite, música de amor para ouvir agarradinho com aquela pessoa especial, Amor Póstumo, para pensar em morrer com aquela mesma pessoa especial, concluindo com Zero Absoluto, após o frontman introduzir o resto dos integrantes. Como bom sofredor santista, devo destacar que o baixista fez o show com uma camisa do alvinegro praiano e antes de descer do palco soltou algumas palavras rápidas, mas impactantes: “é o Santos”. Ao todo, fizeram um show marcante, perfeito para deprimir um pouco mais, perder a fé no mundo, sofrer por amor, etc.

Wasted Kidds no La Iglesia

Após uma troca de palco de mais ou menos 20 minutos, a banda cujo nome virou tópico de debate durante o show dos headliners (seria suave ou s-wave?), o swave subiu no palco e já mostrou que não estava de brincadeira, começando com uma introdução pesada, uma verdadeira exibição das habilidades de cada membro com seus instrumentos, já começaram com os pés, braços, costas, cabeça, pescoço, peito, tudo na porta. Praticamente do absoluto nada, Aline Mendes, a vocalista, surgiu do meio do público segurando uma arma de bolhas de sabão, atirando no público como se estivesse em um filme da Barbie, ou em um daqueles memes de golfinho colorido que dominaram as redes sociais no final do ano passado, já indo direto para a primeira música “de verdade” da noite, sirene, que por mais improvável que seja, gruda na cabeça de um jeito indescritível (se você ouvir vai ficar uns 3 dias repetindo o uuuuuu).

 

Começando com um timbre que lembra aquele barulhinho de quando você bate o dedo em um elástico de escritório, já foi (que também tem uma melodia repetitiva e chiclete, de novo, do melhor jeito possível) manteve a energia lá no alto, e a enérgica te assustar não deixou a peteca cair por nem um segundo, bem pelo contrário, aliás, já que Aline até aproveitou para descer do palco e sair assustando seus fãs logo antes do último refrão. Nessa questão dos fãs, era claro que muitos estavam lá para ver o Sugar Kane, mas a caravana do swave não ficava muito para trás também não, com muitas pessoas já chegando no rolê com camisetas estampadas com o carismático mascote da banda, e muitas outras comprando na hora. Era apenas o show de lançamento do álbum (o também muito bem nomeado foi o que deu pra fazer) na capital paulista, mas boa parte do público já conhecia perfeitamente as músicas.

swave no La Iglesia

Estava na hora de mudar um pouco as coisas, e foi exatamente isso que veio: mudança, faixa que caberia perfeitamente na trilha sonora de qualquer temporada dos anos 2000 da Malhação, sem exceção alguma. Chegando exatamente no meio do setlist, a próxima música refletiu bem onde estávamos no show, longe do fim, que começa mais calma, mas rapidamente têm uma boa dose de energia injetada, diferente do que a letra sugere: “muita calma / nessa pressa / tô cansada”. Ostentando um refrão marcante e a maior duração do disco todo, vai cair foi a escolhida para ser a 7ª do repertório, trazendo alguns momentos mais emocionantes, que realmente destacam a voz de Aline. Esta última faixa do LP foi emendada com a mais reflexiva, mais devagar como eu vou?, que até arrisca misturar um inglês no refrão (ou melhor, em seu chorus), daqueles para cantar junto sem pensar duas vezes.

 

Esperadamente, a última trinca consistiu das 3 últimas faixas que não haviam sido tocadas, começando por mais uma vez, que mesmo tendo uma sonoridade acessível, até meio calma, traz um peso e uma urgência diferenciada na letra, e se nossa vida realmente estiver indo embora, passando também por dge logo depois. Nossos dias geralmente começam com o despertador, mas no caso da swave, foi assim que se despediram, com um momento de catarse, aquela última chance de abrir a roda, última chance de causar, última chance de se aquecer antes da grande atração da noite. Convenhamos, não são todos os supergrupos que duram, é até difícil pensar em algum supergrupo que realmente tenha durado, seja por conta do foco nos projetos “primários” ou pelos inevitáveis conflitos de ego, reunir membros de várias bandas consolidadas nunca pareceu ser um modelo sustentável dentro da música, mas a swave tem tudo para ir contra isso, com todos os envolvidos claramente muitos dispostos, muito entrosados, e ter um impacto grande na cena alternativa nacional.

swave no La Iglesia

Chegando às 23:00, o palco era banhado por um véu de luzes vermelhas enquanto uma introdução soava pelo PA. Capilé, Vini, Fermentão e André passavam a conduzir o culto, trocando olhares e sorrisos, preparando os fãs para o impacto que viria. Com acordes fortes, uma linha de baixo rápida e uma avalanche de batidas na caixa, uma coisa havia ficado mais do que óbvia, a hora de agitar era Agora. Independente do show ter começado com uma música nova, o clima era de nostalgia pura, os olhares dos fãs faziam parecer que acabaram de se reencontrar com um velho amigo, mesmo este amigo nunca tendo ido embora. Havia ficado evidente que cada pessoa dentro da Iglesia tinha uma história com a banda, e que lembravam bem de onde vieram e onde queriam chegar. Foi nessa energia incrível que foram tocadas as primeiras duas da noite, ambas do disco novo - Agora e Lembro Bem. A banda parecia estar ligada no 220v a todo segundo, o palco era pequeno, mas aproveitavam cada centímetro, pulavam, batiam cabeça, e no geral, pareciam estar claramente se divertindo horrores.

 

Depois de uma saudação rápida ao público, o vocalista começou mais uma sequência de acordes que levou os fãs direto para os anos 2000, era de se esperar que nem todo mundo conhecesse o material novo, mas essa seguinte não tinha como não conhecer, pois o tempo havia passado, mas ele estava parado ali, Medo trouxe um pouco do bom e do melhor de Por Nossa Paz (2001), disco que lançou o Sugar Kane ao mundo, e obviamente era um dos favoritos entre os presentes daquela noite, visto pela força com que o refrão foi ecoado em uníssono pela galera toda. Nesta mesma linha, veio o segundo maior hit deste mesmo CD, emendado com o anterior, Vamos Seguir, que tem aquele fundinho de esperança, de sofrer pelo que ainda não aconteceu.

Sugar Kane no La Iglesia

Ainda trazendo muitas memórias, melodias, mas sem deixar o peso para trás, Velocidade começou a trazer o repertório do disco seguinte, Continuidade da Máquina, que seria contemplado mais a fundo no resto do show, esta primeira sendo praticamente um teaser do que estava por vir. Ao longo deste começo todo, havia um burburinho de roda, uma ameaça de moshpit crescendo perto do palco, muito provavelmente fomentado pela dúvida que todo mundo que frequenta shows já teve depois de uma certa idade: “será que meu joelho e minha lombar aguentam fazer isso?”

 

Antes de prosseguir, Capilé brevemente abordou o jeito em que começaram a apresentação, mas claro, antes, agradeceu a presença e apoio contínuo de todos. O frontman falou que boa parte de quem estava lá já devia conhecer as 3 últimas, mas muito provavelmente não fazia ideia de quais foram as 2 primeiras, explicando que eram de Antes Que o Amor Vá Embora, o último lançamento. Ele já deu uma ideia do que viria a seguir, dizendo que no mesmo disco, eles contam com a participação de um amigo de longa data, outra lenda da cena do hardcore melódico, Fernando Badauí, voz do CPM 22 e atualmente uma das mentes por trás da Repetente Records. Com isso em mente, não surpreenderam quando continuaram com Dormi No Chão, que conta a história das batalhas que tiveram que lutar para pertencer dentro do cenário musical, sendo dominada por um sentimento agridoce, onde a dificuldade e o sacrifício estão à frente de tudo, mas embalados por uma lapada de superação.

Sugar Kane no La Iglesia

Aproveitando o final de Dormi no Chão, o vocalista brevemente introduziu Carlos Fermentão, descrito como “um dos maiores baixistas do Brasil”, por conta de sua estatura avantajada, podemos dizer - o homem é um poste no palco. Para os que não sabem, ele não só é um mestre dos graves, como também já atuou como modelo para algumas linhas de roupa da Sabot e até a triste dissolução do grupo, era o responsável pelas baquetas de uma das bandas mais influentes da história da música brasileira, ninguém mais, ninguém menos que a Merda (que é melhor que Metallica sim). Ele mostrou suas habilidades nas 4 cordas com um solo de baixo que eventualmente se tornou a introdução de Original, mais um dos destaques do lançamento mais recente.

 

“Pra você que está próximo aos 40, ou passou dos 40, ou pra você que tem 22 anos que nem nosso amigo aqui e é mais novo que o Por Nossa Paz, sei que é uma sexta e tal, tá frio, mas nessa música, eu preciso da energia de vocês, posso contar com isso?” A resposta do público foi estrondosa e unânime, mas aparentemente, não tinha sido boa o bastante: “posso contar, caralho?” Com apenas algumas notas na guitarra, todas as meias da La Iglesia espontaneamente subiram até as canelas daqueles que as usavam e o chão começou a tremer, meio mundo começou a pular, havia chegado aquele momento, coloque seu Vans e repita comigo, “Janeiro a-ca-bou!” O que antes era só uma singela ideia de roda, “uma ameaça”, como havia dito, agora era verdadeiramente um vórtice humano, um pequeno liquidificador, e cada palavra que Vini e Capilé cantavam era repetida no mesmo volume pelo público. Fica realmente difícil fazer jus só com palavras ao absurdo que foi aquele momento.

Sugar Kane no La Iglesia

Depois de mais um dos hits do CD do ano passado, Original, bastante hardcore, fizeram uma dobradinha d’A Máquina Que Sonha Colorido, sendo duas músicas com conteúdo lírico um tanto variado, Todos Nós Vamos Morrer, que captura bem aquela energia do “foda-se tudo, agora é o caos”, inclusive mostrando os gritos potentes do vocalista e Um Pouco de Tudo, mais romântica, bem no clima do dia dos namorados mesmo; quem disse que punk não ama? Passaram para a única representante de Ignorância Pluralística, o “disco esquisito” que mencionei no começo do texto, sendo ela Fui Eu, que quando comparada ao resto do repertório realmente fica um pouco discrepante, mantendo a velocidade e rispidez do HxC, mas tendo umas qualidades que remetem ao southern rock, quase um Matanza com menos suor, cerveja quente e minimamente mais banho tomado, mas ainda tem aquele retrogosto de Sugar Kane.

 

Passada Pelo Avesso, Capilé brincou com as letras do grupo, dizendo que muitas vezes os fãs vêm mostrar suas tatuagens a ele, agradecendo pelas palavras que salvaram suas vidas, mas que na verdade boa parte das letras “bonitas” eram de seu irmão, Vini Zampieri. Ele também agradeceu o irmão por tudo que tinha feito, dizendo que foi seu primeiro “roommate, bandmate”, até chegando a dizer que juntos davam muito trabalho para sua mãe. “Arrematando” dois dos três álbuns que ainda não haviam sido contemplados, Divinorum trouxe um pouco de seu som pós-hiato em Demo (2007) e Será Viver mostrou o disco que justamente causou este hiato, o polêmico Elementar (2005), que apesar dos pesares, não deixa de ser um lançamento de qualidade, especialmente ao vivo, com a roupagem mais moderna que as faixas acabam levando - foi o disco errado na hora errada, uma aposta arriscada depois de todo o estouro de Continuidade da Máquina.

Sugar Kane no La Iglesia

Aqueles fãs que já correram para olhar o setlist colado na frente do palco sabiam o que vinha pela frente, Rockstar, mas se dependesse apenas do vocalista, teriam pulado esse som. Ele precisou que Fermentão e seu irmão o convencessem a tocar mais essa, e que bom que tocaram, pois o público a recebeu para lá de calorosamente! Tudo que é bom infelizmente tem que chegar ao fim, e depois de praticamente uma hora de show, havia literalmente chegado a hora da Despedida, mas isso não quis dizer que a galera acalmou, muito pelo contrário, pois tivemos direito até a alguns stagedives, que ainda não haviam acontecido. As duas últimas músicas não podiam ter sido melhor escolhidas, simplesmente Despedida e A Máquina, dois golpes retos de pura nostalgia, encerrando a noite do jeito mais catártico possível. Durante A Máquina, o caos comeu solto, era roda, era gente pulando, tanto na pista quanto do palco, gente cantando, gente saíndo na mão, só faltou alguém grudar no teto.

 

Capilé terminou o show no chão, claramente esgotado, mas com um sorriso no rosto, impressionado com o tanto que o público animou. Realmente, o som do Sugar Kane não é para todo mundo, não são todos que curtem esse lado mais feliz do hardcore, essa coisa mais “malhação-core”, mas não tem como dizer que não esquentaram o público naquela noite fria de sexta-feira 13. Além deles, o swave e a Wasted Kidds mostraram que o cenário alternativo nacional está muito bem, tanto em relação aos nomes mais estabelecidos, experientes, com apoio de gravadora, tanto em relação às bandas da galera mais nova, que continua ralando por aí, buscando seu espaço. Mais uma vez, a La Iglesia justificou porque tem rapidamente se tornado o “point” do underground da terra da garoa, com uma estrutura incrível e curadoria de bandas que dispensa comentários. Em meio a tantos shows esse ano, às vezes os mais memoráveis não são aqueles que enchem estádios, que contam com mais sinalizador do que clássico da série B, aqueles que têm mais pirotecnia do que no ano novo, mas sim aqueles que te levam para tempos mais simples, quando a vida parecia ser mais fácil; está aí o verdadeiro poder da música.

Setlist Wasted Kidds

  1. Insônia
  2. Não Vá Embora Sem Mim
  3. Deus Ex Machina
  4. Leaf
  5. Meu Amor Não Sabe o que Faz
  6. Por Que É Tão Complicado?
  7. Afrodite
  8. Amor Póstumo
  9. Zero Absoluto

 

Setlist swave:

  1. intro
  2. sirene
  3. já foi
  4. te assustar
  5. mudança
  6. longe do fim
  7. vai cair
  8. egotrip
  9. como eu vou?
  10. mais uma vez
  11. dge
  12. despertador

 

Setlist Sugar Kane:

Intro*

  1. Agora
  2. Lembro Bem
  3. Medo
  4. Vamos Seguir
  5. Velocidade
  6. Dormi no Chão
  7. Original
  8. Janeiro
  9. Todos os Dias
  10. Todos Nós Vamos Morrer
  11. Um Pouco de Tudo
  12. Fui Eu
  13. Pelo Avesso
  14. Divinorum
  15. Será Viver
  16. Rockstar
  17. Despedida
  18. A Máquina