Bryan Harris - Death Before Dishonor
Mantendo a vontade de lutar: Bryan Wilson (Death Before Dishonor) discute trajetória, novo álbum e shows no Brasil
Texto e entrevista por: Chato de Show (Daniel Agapito)
Agradecimentos: Tedesco Mídia e New Direction Productions
Nos últimos anos, marcados por um clima tenso de instabilidade e política no mundo todo, o hardcore tem passado por uma certa metamorfose. Na cena norte-americana, bandas como Turnstile e Knocked Loose redefiniram as barreiras do gênero e “furaram a bolha” do punk, passando a ser a curtição dos jovens de modo geral, “estourando” e surfando na onda do “hype” das redes sociais. Com isso, é inegável que uma nova dose de energia seria injetada na “base” da cena, no underground, que sempre esteve borbulhando com novas ideias e novos talentos.
Porém, tem se tornado óbvio que o que verdadeiramente dá vida à cena é o underground, a cultura do-it-yourself, as bandas que estão sempre na ativa, “ralando”, tocando em casas de procedências duvidosas, eventos recheados de imitadores do
Bruce Lee, organizados pelos próprios músicos - e nessa esfera, existem poucas bandas tão importantes quanto o
Death Before Dishonor. Formados em Boston no começo dos anos 2000, rapidamente se consolidaram como um dos grandes nomes da cena da costa leste, lançando álbuns para lá de pesados como
True Till Death (2002),
Friends Family Forever (2005),
Count Me In (2007) e
Better Ways to Die (2009), voltando ao estúdio 10 anos depois com
Unfinished Business (2019), e retornando esse ano com
Nowhere Bound.
Assim como qualquer outra banda, o tempo passou e as coisas mudaram para o
DBD, e seu novo álbum fala exatamente disso - o passar do tempo, manter seus princípios. Se formos olhar para como era o mundo da última vez que vieram para o Brasil (em 2010, acompanhando o
Cro-Mags), estávamos todos em uma situação bastante diferente. Esse é o plano de fundo para a conversa que tivemos com
Bryan Harris, vocalista e membro-fundador da banda, que com quase 25 anos de atividade, não precisa mais provar nada para ninguém. Enquanto ele estava encostado em alguma estrada pelos Estados Unidos, conversamos sobre a trajetória da banda, a evolução do hardcore em si (e sua nova geração), o novo álbum, e é claro, as expectativas para o show no Brasil - que acontece na semana que vem, dia 10, na
Burning House (ingressos
aqui). Confira:
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Para o público que não conhece muito bem quem é o Death Before Dishonor, você poderia nos dar uma rápida introdução à banda?
Bryan:
Absolutamente. Nós somos uma banda de hardcore de Boston, começamos por volta de 2001. Estamos aí há um tempo. Como eu disse, nós já fomos para o Brasil uma vez, em 2010, com o
Cro-Mags. E é isso, nós somos apenas uma banda de hardcore. Tocamos, sabe, música rápida, agressiva e divertida.
Sim, e seguindo isso, vocês já estiveram aqui em 2010, vocês já foram para a Colômbia algumas vezes, vocês já foram bastante para a Europa, vocês também já fizeram Ásia e Austrália.
Bryan: Sim, sim. Nós tivemos a sorte de rodar pelo mundo. Já fizemos EUA, Canadá, fizemos algumas turnês pela América Central. México algumas vezes, sabe. Quanto à América do Sul, nós só fizemos aquela vez em 2010 com o Cro-Mags, e isso foi Chile, Argentina e Brasil.
Mas sim, já fomos algumas vezes para a Austrália, já fomos para o Japão, bastante para a Europa, sabe. Como eu disse, somos uma banda desde 2001. Desde 2005 nós fomos uma banda muito ativa, tipo, de 2005 a 2012 nós costumávamos excursionar muito, tipo 200, 250 dias por ano. E aí entre 2014 e 2018 nós demos uma acalmada. Ainda éramos banda, ainda ativos, só não tão ativos. E aí meio que voltamos a ser mais ativos a partir de 2018. Tirando a pandemia, claro.
E o que você lembra do público latino-americano, do público brasileiro?
Bryan:
Foi muito bom, quero dizer... obviamente tivemos a sorte de ir com o Cro-Mags na época, e acho que aquela foi uma das primeiras vezes que o Cro-Mags tinha ido aí, e eles são uma banda muito lendária. O show foi fenomenal, muita gente. Todo mundo foi muito receptivo. Eu fiquei um pouco com a galera depois, conversei com pessoas, foi incrível, foi muito legal. A cidade foi legal, a comida foi boa, todas essas coisas.
E em geral, quais são as suas expectativas para o show da semana que vem?
Bryan:
Sabe, é difícil dizer, eu nunca sei. Eu sei que tem muitas turnês e bandas passando pela América do Sul agora, tipo no próximo mês, tem tanta coisa acontecendo. Então não sei. O lineup é legal, estou animado, estou ansioso de qualquer forma. Nós sempre vamos para nos divertir, então espero que todo mundo apareça e se divirta também.
E você mencionou o lineup. Vocês vão tocar com Ladrones do México e duas bandas locais, Worst e Odeon. Você teve a chance de ouvir elas?
Bryan: Sabe, o Worst vai bastante para a Europa, então eu conheço o Worst. E eu conhecia bem o baterista antigo. Ele na verdade chegou a fazer teste para o Death Before Dishonor anos atrás. Muito tempo atrás. E ele, eu acho que ele não está mais na banda, se estou certo, de qualquer forma.
A banda mexicana é tipo, tipo uma banda de rap metal ou algo assim, então eu ouvi um pouco. Então como eu disse, eu conheço o Worst e sei que o Worst vai bastante para a Europa e nós já tocamos em shows com eles por lá. Então isso é muito legal, acho que vai ser um show legal, acho que é um bom lineup. Estou animado.
E além do Worst, há outras bandas ou artistas brasileiros de que você gosta?
Bryan:
Quero dizer, claro, todo mundo conhece o Sepultura, certo? Tipo, esse é o famoso. Eu sempre acabo voltando ao Sepultura. Mas o Sepultura também é uma banda muito influente, sabe o que quero dizer? Então isso conta muito. E eles têm raízes no hardcore, assim como, claro, eles são mais uma banda de metal, mas eles fizeram muitas coisas com muitas bandas de hardcore. Então eu, eu realmente amo o Sepultura. Sempre amei, sempre vou amar.
E em termos do setlist, vocês lançaram alguns álbuns desde a última vez que vieram. Então o que podemos esperar, algo mais focado nos clássicos ou mais na promoção do novo álbum?
Bryan:
Vai ser um pouco de tudo. Então, tentamos tocar tipo, especialmente quando não vamos para um lugar com frequência, vamos tocar o máximo que pudermos. Mas vamos ter um pouco de tudo. Temos que tocar alguns clássicos, claro. Mas com certeza vamos tocar algumas coisas do novo disco. Esse disco saiu mais cedo esse ano. É um grande disco, então estamos animados com ele. Então sim, um pouco de tudo, eu diria.
E eu vi você comentando em outras entrevistas que vocês queriam tocar algumas músicas mais obscuras, talvez que estavam revisitando discos antigos e queriam tocar algumas músicas diferentes.
Bryan:
Sim, está completando 20 anos de um certo disco, Friends Family Forever. Então, sabe, estamos tocando algumas músicas desse. Nós tentamos tocar uma boa mistura para dar algo para todo mundo.
E agora mudando para algumas perguntas não necessariamente focadas no show. Tanto nos EUA quanto no Brasil estamos passando por tempos muito instáveis — politicamente, economicamente, populações muito polarizadas. E o hardcore, em sua essência, sempre foi um gênero muito politicamente orientado. Então o que você diria que é a importância do hardcore nesses tempos como meio de espalhar essas mensagens?
Bryan: Bem, eu acho que, como você disse, seja o hardcore verdadeiramente político ou o fato de que nós somos anti-governo de uma forma política, eu acho que os tempos estão bem loucos agora e eu acho que mais do que nunca as pessoas deveriam se apoiar umas nas outras e tipo, nós deveríamos cuidar uns dos outros nesse movimento de base.
Tipo, sabe, eu não acho que o governo vá nos ajudar, é isso que estou dizendo. Então é como se fosse: ajudar uns aos outros. Sabe, quando eu entrei nesse tipo de música, não foi por algo político, mas minha vida em casa e minha vida normal estavam um pouco loucas na época. Então, para mim, poder encontrar algo nessa música foi incrível, sabe o que quero dizer? Então eu sinto a mesma coisa quando olho para o que está acontecendo no governo agora. Como eu disse, acho que em ambas as culturas o governo realmente não está fazendo muito por nós, e temos que cuidar uns dos outros.
Uhum. Não é necessariamente político no sentido partidário, mas é como uma crítica, certo?
Bryan:
Certo, exatamente. 100%
E recentemente também temos visto esse grande boom de bandas de hardcore na internet, nas redes sociais, TikTok, Instagram e coisas assim. Essa nova geração, bandas mais jovens… o que você acha de tudo isso, dessa cultura do hardcore sendo adaptada às redes sociais?
Bryan: Eu acho que, sabe, é difícil porque como uma banda mais antiga você quer ser tipo “ah, eu não ligo para isso”, sabe o que quero dizer? Mas é a cultura em que vivemos agora.
É, tipo, super importante no sentido de que é assim que as pessoas se conectam com tudo hoje. Então, tipo, não é importante como se fosse a única coisa que importa, mas importante no sentido de que você pode se comunicar com todo mundo, pode alcançar muito mais. E se é assim que os jovens estão se conectando com as pessoas, então que seja, sabe o que quero dizer? Eu acho que é meio que… não é legal, mas é legal, porque esse é o mundo deles, sabe o que digo? Então você meio que tem que aceitar como é. Tem o lado negativo, claro, como qualquer coisa nas redes sociais, mas você tem que pegar o lado positivo pelo que ele é.
Os tempos estão mudando, certo?
Bryan:
100% certo. Absolutamente.
E o tipo de bandas de hardcore que estão indo mais para o mainstream também está mudando, certo? Porque você vê bandas como Turnstile e Knocked Loose que estão dobrando, tipo, as barreiras, os gêneros.
Bryan:
Sim, sim. Eles são basicamente como uma banda mainstream de certo modo, sabe o que quero dizer. E é, tipo, interessante. É muito interessante, sabe o que digo.
Mas eu acho que o coração e a alma deles estão no lugar certo, sabe o que quero dizer? Então, sim, é legal.
Eles podem ser tipo um portal para o lado mais pesado, mais underground, certo?
Bryan:
Absolutamente, sim. Porque se você descobre a história deles e coisas assim, isso vai acabar voltando para a cena hardcore, sabe o que quero dizer.
E isso também é meio que o que o Ladrones está fazendo, certo? Eles estão misturando algo mais regional, metal.
Bryan: Sim, sim, com aquele crossover. Pode atrair mais pessoas ao mainstream, mas ainda tem suas raízes.
E o hardcore em sua essência, sempre teve esse cruzamento com outros gêneros, certo? Especialmente com o rap. Sempre houve bandas que “pulavam a cerca”, de certa forma
.
Bryan:
Certo, correto, sim. Quero dizer, até como falamos do Sepultura — eles são uma banda que foi para o mainstream, mas vieram de um movimento underground do metal. E são uma banda muito influente, sabe o que digo.
E com esse cenário em mudança, o jeito como a música é apresentada hoje — algoritmo, serviços de streaming e tudo mais — o que você acha da importância de ter esse tipo de crossover de gênero dentro do hardcore?
Bryan:
Bem, quero dizer, você está alcançando pessoas. E se, tipo, mesmo que só um punhado de jovens se interesse, e descubra essas bandas mais antigas, ou até as bandas atuais, e realmente aprecie a mensagem e o movimento underground DIY, mesmo que esteja ficando um pouco mainstream, é uma conquista, certo? São mais pessoas envolvidas em algo que foi uma parte muito importante da minha vida, e tenho certeza que da sua vida e da vida de todo mundo. Então é meio que legal nesse sentido.
Sim. E mesmo que as pessoas cheguem por esse lado mais acessível, algumas acabam indo parar no DIY mais grassroots.
Bryan: Claro, sim. Você tenta descobrir, tipo… assim como eu quando entrei nisso, você tenta achar algo mais pesado e mais pesado, ou o que for. E isso acaba te levando para o underground. Ou tipo, sabe, você está vendo uma banda e pensa “por que eles estão usando essa camiseta?”, e aí descobre “ah, é dessa banda” e tudo mais. Sabe?
E como você disse no começo da entrevista, vocês começaram por volta de 2001. Então vocês viram toda essa mudança na cena.
Bryan:
Ah sim. Nós vimos todas essas mudanças, sim.
Como você descreveria a evolução da cena nesses últimos 20 anos?
Bryan:
Quero dizer, é totalmente diferente agora. Mas é uma coisa boa, sabe. É bom porque tem um alcance maior, mais pessoas, é mais acessível. Você não quer esquecer de onde veio, e eu acho que a mensagem ainda é sempre importante. Mas se você pode envolver mais pessoas, e pode ficar maior, e mais pessoas podem descobrir algo especial com o qual nós crescemos e fizemos parte, eu acho que é uma coisa incrível.
O hardcore é realmente um daqueles gêneros que conecta profundamente as pessoas, certo?
Bryan:
Realmente conecta. Tem uma conexão real, um sentimento real, todas essas coisas, sabe.
E não só a cena mudou nesses 20 anos, mas vocês, o Death Before Dishonor, como músicos e como pessoas, com certeza também mudaram. Como você diria que vocês mudaram não só como banda, mas também como pessoas?
Bryan:
Ah, quero dizer, nós amadurecemos, sabe. Você fica mais velho e passa a ver o mundo de uma forma um pouco diferente. Sim, ainda estamos com raiva, mas talvez com raiva de coisas diferentes. Tipo, isso volta para aquele papo sobre governo, sabe, talvez coisas como impostos. Quando éramos mais jovens não ligávamos para isso, certo? Mas também como músicos você evolui. Você também se torna muito mais grato, sabe. Quando você é mais jovem, você está vivendo o momento e sendo louco. Agora é tipo, você só quer ser grato e agradecido por ainda estarmos aqui, ainda fazendo isso, ainda sendo parte dessa comunidade.
Você acaba tendo uma visão mais retrospectiva, certo?
Bryan:
Absolutamente, sim.
E essa coisa sobre tempo, sobre manter seus princípios e evolução pessoal, também é um dos temas que vocês tocam em
Nowhere Bound, certo? O novo álbum.
Bryan: Sim. E eu acho que isso é importante, certo? Todos nós, mesmo que evoluamos e fiquemos mais velhos, amadureçamos um pouco e olhemos as coisas de forma um pouco diferente, ainda somos as mesmas pessoas, ainda temos os mesmos princípios, ainda somos garotos do hardcore — mesmo que não sejamos mais garotos. Mas, sabe, ainda vamos a shows, ainda acreditamos em todas aquelas coisas que eram antes. Ainda nos importamos com a ética do faça-você-mesmo. Mesmo que às vezes você esteja em turnês maiores, indo a lugares diferentes, ainda vamos tocar num porão, ainda somos nós mesmos, ainda ficamos com a galera e eu acho que tudo isso é realmente importante.
Você tem que manter a essência e “ensinar” — entre aspas — a nova geração.
Bryan: Sim, meio que sim.
Tipo guiar.
Bryan:
Exato. Sem ensinar, mas guiar as pessoas, eu acho. É isso.
Meio que preparar o terreno.
Bryan:
Exato. Sim, com certeza.
E em termos de temas líricos, sobre o que vocês falam mais nesse álbum? Porque eu senti que é um território um pouco diferente, embora ainda seja Death Before Dishonor em sua essência.
Bryan: Quero dizer, meio que é só sobre o que é atual, certo? Tipo, ainda é raivoso, mas com uma raiva diferente. Tipo, a vida cotidiana é difícil para todo mundo — seja um garoto que tem problemas na escola, ou um adulto que tem problemas para pagar as contas, ou para sobreviver na semana, ou só tipo, sabe, você olha para o mundo, o mundo é caótico e isso te estressa. Então, sabe, eu tento colocar isso nas letras e nós tentamos passar letras onde as pessoas possam interpretar do jeito que quiserem, mas é tipo uma música de rebeldia em que você pode colocar na sua própria perspectiva, mas que ajude a passar por momentos difíceis para chegar em tempos melhores. Tipo, fazer você sentir que alguém mais está passando por isso junto com você.
É como ser uma voz de apoio, certo? Estar lá pelas pessoas.
Bryan:
Certo. Mas ao mesmo tempo eu também estou tirando um peso do meu peito. Então estamos todos nos ajudando.
É como uma via de mão dupla.
Bryan:
Absolutamente.
E eu sei que as cenas no Brasil e nos EUA são bem diferentes, mas acho que ainda existem pontos de convergência. O que você diria sobre equilibrar as responsabilidades da vida adulta em geral com ter uma banda, excursionar e ser tão ativo quanto vocês são?
Bryan:
É difícil. Quero dizer, eu pessoalmente não tenho filhos, então é um pouco mais fácil. Eu sou casado. Mas nós vamos e fazemos o máximo que podemos, mas eu tento ficar com os pés no chão, sabe, sair por uma semana, duas semanas, às vezes um pouco mais, mas também tentar ficar em casa um pouco. Literalmente só tentando equilibrar. Tipo, você tem que pagar as contas.
O hardcore é ótimo e divertido, mas nem sempre é a coisa mais lucrativa. Então você tem que tentar fazer as coisas funcionarem, apenas mantendo esse equilíbrio. Mas, sabe, ainda temos essa vontade de sair e tocar shows. Então é realmente um equilíbrio. E acho que quanto mais velhos ficamos também, é tipo: nós ainda amamos ir fazer shows e turnês e sempre vamos fazer isso enquanto pudermos. Mas também vamos tirar umas pausas entre uma coisa e outra. Não vamos mais fazer 250 shows por ano. Podemos fazer 100 por ano.
O que ainda é uma quantidade insana de shows.
Bryan: Sim. Pode ser tipo 70 a 100, sabe o que quero dizer? Nunca se sabe. Talvez sejam 50 em alguns anos. Mas contanto que estejamos por aí e nos divertindo. E essa é a outra coisa: se divertir de verdade é o mais importante.
Não pode parecer trabalho, certo? Senão perde o sentido.
Bryan:
Não. E alguns dias vai parecer trabalho se você está viajando e a viagem é uma droga. Mas foi por diversão que entramos nisso, certo? Para soltar um pouco de agressividade e vapor. E é isso que queremos
fazer.
Sim. E agora voltando para o novo álbum, olhando para toda a sua trajetória e todos os anos que vocês tiveram na estrada, como você diria que Nowhere Bound captura onde o Death Before Dishonor está como banda? Onde ele se encaixa?
Bryan:
Eu acho que é um bom resumo geral. Tipo, eu sinto que ele meio que volta a algumas das raízes. Até a música “Nowhere Bound” foi escrita há muito tempo, e nós a regravamos e mudamos um pouco. Era para ser só um lado B e acabou ficando tão boa que… e o título era legal, então é uma música antiga refeita. E eu acho que captura todos os aspectos do Death Before Dishonor, mas também é um pouco mais, eu sinto que é moderno. Moderno, mas também agressivo, o que eu acho que é importante para o Death Before Dishonor. Então eu acho que ele captura um pouco de tudo sem perder a essência, mas também com um toque moderno, na minha opinião.
Então é como uma evolução, basicamente.
Bryan:
Eu acho que sim. Tenho certeza de que todo mundo fala isso, mas eu realmente sinto isso com esse disco, especialmente. É muito completo. Tipo, não tem uma música que eu pule. Eu realmente estou feliz com ele.
E eu ia perguntar especificamente sobre essa música. Houve algo que fez vocês quererem revisitar e retrabalhar essa música?
Bryan:
Então, quando estávamos indo para o estúdio, eles falaram tipo: “sabe, vocês deveriam fazer alguns lados B, seja um cover, uma música antiga”. E eu estava ouvindo um disco antigo, e essa música estava no True Till Death, que é de 2002. E tem muita coisa lá que eu não gosto muito — éramos jovens. Mas eu estava ouvindo essa música e pensei: legal. Só tinha uma parte que eu realmente não gostava. E pensei: e se a gente tirasse essa parte? Estávamos conversando sobre isso, e só de ouvir como soamos agora, com equipamentos melhores, porque estamos mais velhos e tal… aí eu cortei uma parte, mudamos outra, e eu pensei: cara, isso soa muito legal.
Fomos para o estúdio e pensei: caramba, isso soa muito bem. Então foi meio que isso. Não houve uma grande decisão além de: precisávamos de um lado B. E aí soou muito bem, e eu pensei: esse título é muito legal e meio que combina com tudo que está rolando. Então simplesmente rolou. O que é meio estranho, nomear um disco novo com a faixa-título de uma música antiga, sabe? Mas eu pensei: esse nome é muito legal, e acho que essa música nunca recebeu a atenção que merecia. E quando gravamos de novo e ela soou ótima, pensei: vamos seguir com isso.
Justo. E como em toda arte, você sempre acaba referenciando coisas antigas, certo? Não é tudo completamente novo.
Bryan:
Realmente. Realmente sim. Com certeza.
E agora, com a mentalidade e a experiência que você tem, há algo que você teria feito diferente ao longo da sua carreira? Algum arrependimento?
Bryan:
Eu sempre penso nisso, e já me perguntaram antes. Quero dizer, tenho certeza de que há pequenos arrependimentos. Mas na realidade, é tipo: se você tivesse feito isso diferente, quem sabe se o caminho teria nos trazido até aqui, certo? E qualquer coisa ruim, você aprende com ela, certo? E isso faz parte da vida. Então, tipo, não. Eu amo estar em uma banda. Sou muito sortudo de ainda estarmos juntos, de ter rodado o mundo. Claro que houve altos e baixos, como sempre há no hardcore e na vida. Mas eu não mudaria nada, porque sinto que é o mesmo com a vida em geral. Você quer voltar e pensar: “ah, poderia ter mudado aquilo?”. Mas então a sua trajetória seria diferente. Talvez você não tivesse aprendido isso ou aquilo. Então eu digo não, sabe?
Tudo acaba sendo uma experiência de aprendizado, certo?
Bryan:
Na vida, absolutamente.
E se você tivesse que condensar todos esses anos em alguns conselhos para pessoas que estão entrando no hardcore agora, bandas novas, fãs novos, quais seriam?
Bryan:
Eu diria: vá lá e se divirta. Faça isso porque está se divertindo. Se você está tentando ganhar dinheiro, não vai dar certo. Mas acho que ninguém entra nisso pelo dinheiro. Aproveite os momentos que você tem, porque você nunca sabe, a vida é rápida.
Se você tiver oportunidades, aproveite essas oportunidades. Veja o mundo, se divirta. Conheça pessoas, vá conversar, ficar com a galera. Mesmo sendo de uma banda, tocando shows, assista outras bandas, participe da sua cena local. Isso é muito importante.
Da minha parte é basicamente isso. Se há algo mais que você queira mencionar, qualquer mensagem para os fãs brasileiros, esse espaço é seu.
Bryan:
Eu agradeço. Agradeço o seu tempo. Obrigado por fazer essa entrevista e por dedicar o tempo. Estamos muito animados para voltar a São Paulo pela primeira vez em muito tempo, 15 anos. Então estamos ansiosos. Apareçam no show, vamos nos divertir.
Grandes bandas, bons momentos. Estamos empolgados.
No próximo dia 10 de outubro, São Paulo recebe um encontro inusitado e intenso: os norte-americanos do Death Before Dishonor e os mexicanos do Ladrones dividem o palco da Burning House, junto às bandas Worst e Odeon. A apresentação é produzida pela New Direction Productions e promete ser um verdadeiro encontro do hardcore underground mundial. Confira as informações abaixo sobre os ingressos.
Serviço – Death Before Dishonor + Ladrones em São Paulo
Data: 10 de outubro de 2025 (sexta-feira)
Horário: 19h (abertura da casa)
Local: Burning House – Av. Santa Marina, 247 – Água Branca – São Paulo/SP
Ingressos: Fastix
